O CIRCO DOS CLONES
Lembranças
 
 
Ultimamente ando muito nostálgico. Outro dia, procurando um livro com a intenção de tirar uma dúvida sobre a segunda guerra mundial, insistentemente estava esbarrando em um porta-retratos de uma sobrinha, em que ela está sentada, tendo ao fundo uma montanha, com um riacho formado pelo degelo – se não me engano no Chile. Na época ela deveria ter, talvez dez anos. Puxando pela memória, lembrei-me de quando ela ali esteve trazendo aquela foto. Sempre estudiosa, estudava em colégio americano, pouco pensava em lazer, resolvi que pelo menos ali, naquele feriado, ela deveria se divertir um pouco. Buscando alguma opção de lazer me ocorreu de irmos ao circo. Soube que havia um na cidade, e confesso que também estava “doido” pra ir. Não foi fácil convencê-la. Naquela idade já era determinada e sabia muito bem o que queria. Tinha que estudar. No fim acabamos convencendo-a e lá fomos.
 
O circo era enorme, porém não vi muitos integrantes por ali. Ainda pelo lado de fora pude observar um certo abandono, mas não dei muita importância, certamente estavam se preparando para o espetáculo. Na bilheteria, um rapaz simpático me atendeu, todo arrumado, paletó e gravata borboleta – “Opa, deve ser bom! Se o bilheteiro se veste assim, o nível dos espetáculos deve ser ótimo”.
 
Ingressos comprados, seguimos à entrada, fomos recebidos por uma moça toda maquiada, de maiô, vestida de trapezista – “Caramba! O pessoal aqui realmente entra no clima!” – Seguimos para as cadeiras. Normalmente não gosto de me sentar muito próximo ao picadeiro, mas como sabia da apresentação de animais e essa sobrinha não tinha muito contato com a natureza fiz questão de conseguir um lugar bem próximo. Havia uma armação de madeira cercando toda a área de apresentação, de aproximadamente um metro e meio; imaginei que já estivessem adiantando o serviço, faltando colocar apenas as grades onde circulariam os animais em alguma apresentação.
 
Enquanto aguardávamos, nada melhor que algumas guloseimas. Procurei por alguém, olhando em volta. Não estava lotado – “Não é final de semana, deve ser isso”. Finalmente vejo uma moça vendendo pipoca, amendoim, balas e outras “porcarias” do gênero. Ao se aproximar, tento me lembrar de onde a conhecia - “Ah! A moça da entrada. Ou seria uma irmã gêmea. São tão parecidas...” - Minha sobrinha não queria, estava sem vontade e ainda cheia de dedos. Insisti e acabou aceitando pipoca pra me agradar.
 
Começa o espetáculo, num jogo exagerado de luzes, tento ver de onde vem a voz, ou melhor dizendo, onde está o apresentador. Também o reconheço. “É o irmão gêmeo do bilheteiro. Ou seria o próprio?”
 
Apresenta a primeira atração: Os palhaços. Este inédito, entra acompanhado de uma moça muito bonita, vestida de trapezista, “irmã gêmea” da vendedora de doces. A essa altura já não mais prestava atenção ao espetáculo. Minha mente trabalhava em elucidar outros mistérios. Começa a segunda apresentação: O mágico. “Irmão gêmeo” do apresentador. Começava a achar tudo aquilo divertido. Quem seria o próximo a entrar em cena? Próxima atração: Os trapezistas. Um trapezista (novato em cena), a vendedora de doces e, boquiaberto, acompanhada de uma irmã gêmea, apoiada em sua cintura. Acredito eu que devido a um acidente, tinha dificuldade em andar. Pouco depois o palhaço entra em cena participando da apresentação, juntamente com o ‘mágico”. Terminado o número dos trapezistas, o “apresentador” anuncia a próxima atração: o show com os animais. Fiquei aguardando colocarem as grades. De repente vejo abrirem uma portinhola nos fundos e entrar correndo um hipopótamo (adolescente) seguido por uma avestruz e uma zebra, correndo em círculos, esbarrando vez em quando na frágil proteção de madeira. Confesso que fiquei num misto de riso com a cena e preocupação com as crianças, com a possibilidade daquela cerca vir abaixo. Por sorte deram poucas voltas e foram retirados para a próxima atração: O Globo da Morte, com o bilheteiro pilotando a moto. Duas ou três voltas e pronto. Encerra-se o espetáculo, que era por mim esperado para pelo menos noventa minutos e no entanto durou não mais que trinta ou quarenta.
 
Na despedida final pude contar: O bilheteiro, a trapezista, sua irmã gêmea(acidentada), um trapezista e um palhaço. Cinco integrantes apenas. Saí dali imaginando o que poderia ter acontecido com todos os integrantes daquele circo. Não seria possível apenas cinco integrantes ter montado toda aquela estrutura. Tudo que descobri foi que paguei por um espetáculo que não valia, se bem que foi divertido ver o desempenho daquela trupe se desdobrando para garantir o espetáculo.
 

 
 

foto: Google (Cirque du Soleil)
Walter Peixoto
Enviado por Walter Peixoto em 25/02/2012
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