O VALE DOS ABORTADOS

Era noite. A jovem foi levada a mais uma viagem espiritual... Dessa vez, a uma região entre duas grandes montanhas rochosas, onde se abria um vale, imerso em sombras abismais. Ao seu lado havia o espírito de uma mulher que, ou a acompanhava ou era guardiã daquele lugar. Mas ali, entre a escuridão, jazia um horrendo mar.

Não. Não era um mar tenebroso em suas ondas, pois estas não existiam. Também não havia monstros lendários, daqueles que naufragavam os navios e devoravam tripulações inteiras. Ah, não!... Quisera mil vezes que fosse isso! Quisera os olhos nunca terem visto tal mar, nem o pensamento sequer o imaginado...

Como falar... Como descrever, se nenhuma palavra terrena é capaz de dizer o que ali se encontrava, nem o horror e o desespero que sentiu então. O mar, meus queridos e minhas queridas, parecia de fetos humanos mortos, mas era ainda pior: eram de pedaços deles, estilhaçados, misturados a sangue e lama, amontoados e espalhados numa soma incalculável, num espaço sem dimensão...

Diante do pavor, a jovem perguntou, por pensamento (porque ali não se precisava da voz para comunicação), que lugar terrível era aquele. Quem fizera tamanha atrocidade? E o pensamento da Guardiã a respondeu:

- Aqui é o Vale dos Abortados. Aqui estão registrados todos os crimes feitos contra esses inocentes. Ninguém ficará impune. Ninguém.

- Mas veja! Aquele ainda se mexe!(disse a jovem).

Correu, ajuntou o pequeno ser da imundície e levou-o nos braços até uma espécie de mesa de pedra.

Subitamente seus olhos encontraram as paredes do seu quarto.

Para seu alívio, estava em casa, mas aquela mensagem não podia ficar.

Cassandra.( ∞)

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"Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim". Chico Xavier