Crônica da minha morte

Hoje eu me matei.

Acordei decidido. Intempestiva e inapelavelmente apunhalei-me. Assassinei meu eu interior, que tanto sofrimento já me havia proporcionado. Estrangulei minhas ruminantes e inúteis preocupações. Decapitei de um só golpe minhas altruístas atitudes para com os bem próximos. Fuzilei sem nenhum remorso meu infrutífero passado cuidador. Apedrejei impiedosamente o que restava de minha obsessiva e paternalista alma.

Esperei com ansiedade então o desfecho de tão ignóbil crime. Qual seria a minha punição? Estaria eu condenado ao inferno da solidão e da amargura, regado em doses diárias de remorso e culpa? Afinal, não se mata impunemente toda a história de uma vida.

Após angustiante expectativa, recebi então a sentença: pelos crimes emocionais até então praticados, fui condenado à paralisia, à não-ação, ao ostracismo comportamental.

Irremediavelmente combalido, ciente de minha insignificância, eis que aqui ainda estou. Sobrevivo, tento sufocar mágoas e vislumbro algum futuro.

Sigo mais leve. Meu crime me libertou.

Prometeu queria dominar o fogo...

Quanto a mim, pretendo apenas ir em frente.

Deixo as emoções terrenas para os que ainda as haverão de constatar... As mesmas que os sábios já vivenciaram e descartaram.

Nada somos: o segredo é entender, é aceitar; para que possamos viver.

Simplesmente viver... Um dia de cada vez.

Max Rocha
Enviado por Max Rocha em 26/02/2012
Código do texto: T3520742
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