Mulheres pré-fabricadas

Mulheres pré-fabricadas

Um dos acontecimentos que adoro assistir na TV é a entrega do Oscar. Sempre fui apaixonada por cinema, e ver meus filmes ou atores preferidos, sendo premiados pelo mais cobiçado prêmio da sétima arte, é uma emoção que gosto de sentir. Fico até a madrugada acompanhando essa noite de gala na vida do cinema. E uma coisa cada vez mais tem chamado atenção: o glamour das atrizes, cada vez mais esplendorosas à medida que o tempo passa. Parece que para algumas, ao invés da velhice, o tempo vai invertendo o seu efeito nos rostos e no corpos que desfilam totalmente produzidos, cobertos pela maquiagem impecável e pelos vestidos de griffe, presentes justamente para divulgar o estilista criador.

A moda, muitas vezes chocante, deslumbra pela ousadia, pelo bom ou pelo mau gosto que às vezes se faz presente para chamar atenção. Mas a plástica perfeita dos corpos que desfilam no tapete vermelho fazem a gente pensar muito sobre os valores que as pessoas tem abraçado nestes tempos. De uma hora para outra, parece que ficar velha ficou fora de moda, fora de aceitação em alguns meios de convivência. Os estereótipos criados pelo mundo da moda estão mudando o comportamento das pessoas que não se aceitam fora dos padrões dos corpos turbinados, pré-moldados, modelados à base de silicone quando sobra espaço e sugado em sessões de lipoaspiração quando estas ultrapassam as medidas . A cirurgia plástica nunca foi um investimento tão valioso quanto nestes tempos em que as fábricas de corpos perfeitos se exibem na maioria dos consultórios médicos das grandes e pequenas cidades. Sim, porque as pequenas cidades já tem seguidoras dessa linha estética, onde o corpo tem que seguir padrões, não importa o custo, que muitas vezes é a própria vida. Afinal, para ficar bonita e impecável, tem que se correr o risco.

E além dos corpos pré-fabricados, a cosmetologia tem conseguido milagres para atender os padrões de beleza exigidos pelo público feminino. Cada vez mais a maquiagem é mais completa, os disfarces das imperfeições do rosto ficam mais eficazes e a beleza ao final da maquiagem é quase um artesanato de feições. Mas como ficam lindas!... Tudo isso é maravilhoso, vale a pena se melhoram a auto-estima de quem está no prelúdio da vida, que não precisa necessariamente ser vivido com a angústia de envelhecer... A vaidade foi um atributo feminino e cuidar do corpo sempre foi um costume de todo ser humano que se gosta. Mas o que não pode é criar comportamentos de não aceitação da velhice que chega, criando um tendência preconceituosa que muitas vezes leva as pessoas a usar de artifícios para enganar o espelho e cair na depressão na solidão do quarto, quando a máscara cai. Essa mania de se camuflar para enfrentar o mundo muitas vezes incomoda quando é preciso se olhar por dentro e enxergar que os adereços são apenas fachada, que no interior do corpo a maturidade avança, a elasticidade se esvai e a energia cada dia vai ficando mais lenta e pouca. É um processo natural do qual ninguém está imune. E é lindo, se vivido com sabedoria e dignidade, com a consciência tranquila da missão cumprida, dos anos bem vividos e dos bons momentos curtidos com alegria na dosagem certa. Envelhecer não pode ser vergonha, castigo e nem pecado para ninguém... é apenas uma etapa da vida, tão sublime quanto a infância porque assim como no começo, de repente dependemos também do anjo da guarda, do apoio das pessoas e das graças de Deus para viver mais um dia. Felizes e orgulhosos das marcas do tempo no nosso rosto e no nosso corpo. Verdadeiros, em paz com nossos cabelos brancos e com nossas mãos trêmulas, de bem com a vida, apesar da imagem distorcida que nos sorri todo dia no espelho. O mundo pode se disfarçar com artifícios lá fora para enganar os anos e os olhos que cobram a estética todos os dias, mas há que se respeitar a alma que precisa da essência da maturidade para abraçar a velhice como um prêmio por ter caminhado com serenidade pelos atalhos da vida. Naturalmente, sem rejeição ao invólucro que Deus nos deu.

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 03/03/2012
Reeditado em 03/03/2012
Código do texto: T3532798