Às bravas lutadoras, todo dia deveria ser o dia da mulher

No dia 8 de março de 1857, mais de 130 mulheres pagariam com o preço de sua própria vida, ao morrerem carbonizadas. Trancafiadas na fábrica e mortas criminosamente por um incêndio provocado contra elas, em Nova Iorque, elas sofreram por reivindicarem pelo mais elementar direito social, na defesa de melhores condições de trabalho: igualdade salarial entre homens e mulheres, redução na jornada de trabalho de 16 para 10 horas e um tratamento digno, contra os constantes assédios morais e sexuais.

Diferente da homenagem despolitizada e hipócrita de uma sociedade notoriamente machista e discriminadora, prefiro fazer desta crônica um desafio, longe das homenagens piegas - por sinal, distantes das lutas incansáveis e das duplas jornadas de trabalho que geralmente as mulheres sofrem. Aliás, longe até mesmo das reivindicações de determinados movimentos feministas de fundo pequeno-burguês (e ainda dentro da própria esquerda), tão distantes das lutas diárias de milhões e milhões de mulheres.

Vou além da comemoração despolitizada e descompromissada de boa parcela, naquele velho jargão do "politicamente correto", para fazer "aquela média" às mulheres. Aliás... ultrapasso aquele hábito (perdoem-me!) de telefonar e dar o velho e batido buquê de flores e dizer, naquela voz esvaziada e naquele praxe burocrático-afetivo, de "Feliz dia das mulheres".

Seria uma ultrajante ofensa a mais de 130 mulheres carbonizadas ou de todas as mulheres que, na luta pela igualdade, foram injustiçadas, massacradas e violentadas por meios ou instrumentos espúrios. Justamente, a mesma sociedade que a violenta é a mesma onde os mesmos homens que as humilham, são capazes de "cooptá-las" com um sorriso, um gracejo ou uma "cortesia", como se elas, por si só, fossem capazes de apagar a dura labuta diária.

Não vou comemorar o Dia Internacional das Mulheres. Decididamente não vou comemorar!

Aliás, dia da mulher, para mim, é todo o dia. Todo o dia de uma mulher que labuta, que cuida de sua casa, da sua família e de uma sociedade. De uma mulher provedora e, ao mesmo tempo, sonhadora e idealista por natureza. De uma mulher que faz merecer a ternura que há muito tempo não recebe. Àquela, justamente, por não receber o apoio devido da sociedade, merece mais que qualquer compensação social. Merece um pedido de perdão público, depois de milênios e milênios de atrocidade.

Longe de comemorar o dia 08 de março, ainda são inúmeros os desafios, diante de um país que possui 52% de mulheres no contingente populacional e mal consegue abrigar 10% de mulheres no Congresso Nacional, mesmo tendo à frente da Presidência da República a infatigável Dilma Rousseff. Ainda sim, a luta pela igualdade salarial, de condições de trabalho dignas, e nos direitos sociais e políticos mais sublimes não nos dão direito para comemorarmos algo que mal sequer foi iniciado, com o advento do voto feminino em 1934 no Governo Vargas.

Longe da corriqueira comemoração fajuta, todo o dia deveria ser dia da mulher...

Só que pouquíssimos se dispõem a isso.

Quem quer fazê-lo em prol delas?