124 – DESEJOS...

Sabadão, passeando pelo shopping, olhando pra todas as vitrines das lojas e nada comprando, cansado tanto perambular fui até a praça da alimentação, gosto muito da comida chinesa, formatei um bom prato, fui colocando de tudo um pouquinho, frango xadrez, frango empanado, macarrão, arroz, peixe frito, finalizando com um rolinho de queijo, algumas colheradas de amendoim torrado e um refrigerante, e me acomodei naquelas inúmeras mesas que fronteiam os restaurantes, ao meu lado duas senhoras de aproximadamente uns sessenta anos de idade, calmamente tomavam o cafezinho do pós almoço, as duas tagarelavam e martelavam seguidamente em um assunto que por fim começou a atrair a minha atenção, aquele tema parecia inesgotável, ia e vinha e repetia e tocava sempre na mesma tecla, a morte, daquelas senhora a de aparência mais velha, morena, cabelos negros brilhantes, que com toda a certeza foram recentemente pintados, dizia:

- Quando eu morrer, eu já falei com os meus filhos e o pro meu marido, quero ser enterrada em minha cidade natal, no mesmo jazigo dos meus pais, fiz uma visita recentemente ao cemitério daquela cidade, já mandei reformar tudo, mandei substituir antigos granitos desprovidos de brilho por outros mais escuros, e nestes novos granitos mandei grafar todos os dados dos meus pais e irmãos que ali estão enterrados, enfim estou preparando a minha cova!

A outra que era um tanto alourada, olhos verdes, gorda:

- Deus me livre de ser enterrada, jamais eu faria tal coisa, já deixei por escrito para a minha família que quando eu bater as botas, quero é ser cremada! Tenho medo do escuro da sepultura, tenho pesadelos sendo enterrada, tremo toda...

- Nossa!! Você quer ser cremada?

- Cremadinha da silva, e decidi que as minhas cinzas serão jogadas nos canteiros do jardim da minha casa, nada de me deixarem numa caixinha em exposição e ser transformada em atração turística, quero ser transformada é em adubo daquelas flores que tanto amo!

A outra:

- Eu jamais suportaria me ver dentro de um forno sendo incinerada, tenho pavor dessas coisas, é o mesmo que colocar você tal qual uma carne para ser assada, ou melhor queimada, não consigo enxergar um bom motivo para justificar este seu maluco desejo em ser cremada!

- Imagine, quando você for enterrada naquela escuridão atemorizante das profundezas da terra, naquele silêncio pavoroso, imobilizada, sem poder se defender, e sabendo que logo logo os vermes virão te comer, que se fartarão devorando todas as suas carnes, chego a tremer de pavor só de pensar em ser enterrada, mil vezes prefiro ser cremada, torradinha, cinzas, e tem mais uma coisa, em toda a minha vida o único verme que me comeu foi o meu marido, sem essa de outros vermes também me comerem!

Fez-se um pequeno silêncio, uma olhou para a outra, atinaram no que falaram, e deram sonoras gargalhadas, sorriram tanto que até lagrimas rolaram, por fim:

- Então em toda a sua vida o único verme que te comeu foi o seu marido? KKKKKKKKKKKKK, Eu não tenho esse problema, nem esta preocupação, muitos vermes já me comeram, além do mais, depois de morta eu pouco estou lixando que mais vermes venham deliciarem nas minhas carnes!!

Magnu Max Bomfim
Enviado por Magnu Max Bomfim em 14/03/2012
Reeditado em 25/03/2012
Código do texto: T3553512
Classificação de conteúdo: seguro