PREÂMBULO SEM HISTÓRIA
Um traço de história ilumina a tarde.
O que posso fazer se não tenho uma história para contar?
O fato acontece diante dos meus olhos mas não é minha culpa não ter o ritmo e o tempo e nem durar o suficiente para fazer dos movimentos da mosca um enredo.
O que se pode fazer então é uma transcrição poética dos objetos em cena.
Difícil mesmo é dar início com uma negativa.
Mas vamos lá.
Por serem objetos não estão menos vivos e menos cheios de vontade que eu ou o leitor, pois que é desejo de vida o que se vê. E mais, a vida sustentada por si, em si, como ela é.
Acontece, está lá o majestoso Angico. Aqui, debaixo desse limoeiro que elegantemente dá passagem para a luz do sol, deixados para nosso testemunho, três pés de erva doce que fazem primeiro plano para que o singelo pé de mentrasto se encoste.
Enredados na falta de trama, sento-me calado.
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Baltazar Gonçalves