Vamos chacoalhar o esqueleto

E fez-se a luz! 14:30h e Ana Clara começou a contar uma história de depressão. Não dela, ainda bem, que resolveu chacoalhar o esqueleto. Ser feliz não é só um sonho, é necessidade. Veio a luz e resolvemos brincar. Qualquer coisa serve quando o que se quer é a luz Os olhos das pessoas escondem mensagens, é preciso saber olhar. Lembranças de Natal. Ano Novo. Parece sempre a mesma coisa, mas não é. O novo é velho, diria Paulo. Todo mundo já foi criança. Velho, a gente vai sendo. Adquirindo vida. Recolhendo experiência. Lembro a jabuticabeira da infância, as flores pequenas e brancas rentes ao galho, promessa de frutos. Faz assim, desde que o mundo é mundo. Cria e recria, reinventando o doce se faz mais ou menos sol. Na memória parece ainda mais bonita. Era alta, hoje é distante, carregada de possíveis porque lembrança. Eu a reencontrei em uma outra, na casa de parentes, em um vaso.Já viu? Jabuticabeira no vaso? É. Recriada. Novinha, fresca, cheia de flores e pequenos frutos ainda verdes que vão encher-se de mel. Sou reapresentada a mim mesma todo o tempo, na figura das meninas-mães que passam por mim no trabalho, nos adolescentes – eles ou elas – plenos de coisas pra dizer sem saber ao certo pra quem. Então ouço e temo por meu filho: não vá ele passar por dores desnecessárias! E existe isso? Acho que não, mas queria protegê-lo e proteger-me também das dores maternais. “Filhos, melhor não tê-los, mas se não os temos..*.” Nossa vida seria mais tranqüila! Talvez menos doce e mais calada porque filhos são também a nossa voz. A que grita quando, por motivo de força maior, nos calamos. E a juventude deles nos alimenta ainda quando faz esvair nossa paciência. Filhos nos enchem de dúvidas, de muitos “porque não?” São as vezes cruéis na urgência de existirem de modo diverso. Depois dormem tranqüilos porque o mundo é bom. Ainda bem! Há sempre um preço a ser pago e cada um usa a moeda de que dispõe, mas afinal estamos sempre fazendo as contas. Viver é moto perpétuo e há sabedoria nesse recriar juvenil. Parece sempre a mesma coisa, mas não é. Parece que sabemos, mas preste atenção, repare bem: há olhos novos e sonhos verdes prenhes de luz.

Vamos chacoalhar o esqueleto!

30/12/1996.

* Poema Enjoadinho - Vinícius de Moraes

Raquel DPires
Enviado por Raquel DPires em 20/03/2012
Reeditado em 08/04/2012
Código do texto: T3564600
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