Escrevi uma carta

Foi ontem, no final da tarde, que eu escrevi uma carta. Arranquei uma folha de caderno, peguei uma caneta e comecei a escrever. No topo, coloquei o nome da minha cidade e a data em que escrevia – em que escrevia uma carta. Minha letra não era bonita, mas achei que você iria gostar de ver que, afinal, era minha.

E então comecei a escrever uma porção de coisas, mas nada que fosse urgente – você só irá ler daqui a uma semana. Mas eram coisas tão importantes e bonitas que achei necessário escrever – e sei que você lerá várias vezes, e ficará admirada porque recebeu uma carta, e que dizia tantas coisas que a gente nunca teve tempo de dizer.

Foi assim que terminei de escrever a carta. Dobrei a folha com cuidado e a coloquei dentro de um envelope. Nele, escrevi o seu nome – achei exagero colocar o seu apelido carinhoso. É inacreditável, mas aquilo que eu escrevi aqui, na minha mesa, no final da tarde de ontem, irá chegar às suas mãos – a mesma folha, o mesmo envelope e as mesmas palavras.

Acho que você perceberá o que tudo isso significa. E então, a nossa carta terá se transformado em um pequeno tesouro, e você irá guardá-la com todo cuidado e, aconteça o que acontecer, não vai querer se desfazer dela. E tudo isso apenas porque ontem, no final da tarde, eu resolvi escrever uma carta – e ela me custou míseros 65 centavos.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 23/03/2012
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