Insondável mistério...

O telefone tocou... Atendi e ouvi algo que gostaria ser... A última notícia a receber... Minha tia Maria... Internada há alguns dias no CTI em Niterói no Rio de Janeiro... Falecera... Voltara para casa do Criador depois de finda a sua missão... Eu devia estar preparada, pois o estado dela era muito grave, mas infelizmente essa conformação somente nos vem com o tempo e... Depois que o sofrer vai se transformando numa boa e suave saudade onde relembramos os bons momentos que passamos juntas... O resto do dia foi tristonho para todos... O velório foi marcado para o meio dia de domingo em Maricá onde minha tia morava junto com meus primos... Foi uma viagem cansativa, pois o trânsito estava muito difícil e o local do enterro era um tanto distante do bairro onde eles moram, mas enfim chegamos!... Não gosto de ir a enterros... É um momento difícil... Tudo que tentamos dizer fica vazio e sem finalidade... Daí... Preferi abraçar forte cada primo e em silêncio... Penso que nessa hora... Ele fala mais que muitas palavras... Ah!... Mas o pior... Foi conseguir ter coragem de entrar na capela onde estava o corpo de minha tia... É algo muito sofrido ver uma pessoa tão alegre e ativa... Ali... Inerte, pálida e sem vida... Foi algo sobre-humano... Mas tive que passar por isso... Minha prima disse algumas palavras despedindo-se e desejando muita luz e paz em seu novo plano... Saímos da capela e ficamos aguardando o momento da despedida final... Foi aí que observei uma cadela deitada um pouco à frente de onde estávamos... Não pude deixar de observar o triste olhar daquele animal e comentei isso com minha prima... Eu adoro cachorros... Tenho a minha Sussu que me adotou há sete anos e a amo de paixão... Mas... Aquela cadela tinha algo diferente... Parecia compenetrada e num dado momento virou-se e olhou pra mim... Levantou-se com dificuldade... Vi que as pernas de trás pareciam endurecidas por algum tipo de doença, Tadinha!... Veio vagarosa até perto de mim... Afaguei-a sem o menor temor... Transbordava uma paz inexplicável... Olhou-me como se quisesse dizer... Que sentia muito a minha perda e depois disso... Voltou para o lugar de antes... Passou um tempo e chegou a hora de acompanharmos o cortejo e... Que inusitada surpresa... A minha amiguinha de quatro patas... Levantou-se com a mesma dificuldade de antes e acompanhou-nos até o cemitério... Esperou pacientemente todo o cerimonial e... Quando estava tudo terminado... Ela voltou no seu vagar... Deitando-se de novo no lugar de antes... Segundo conversei depois com um dos funcionários... Foi me dito que aquele ritual era como um tipo de missão, pois... Ela sempre acompanha cada corpo que chega... Desde a rua até a capela e depois, até o local do enterro... Já faz isso há algum tempo... Incrível e impressionante esse sentir canino... É sim... Um insondável mistério!... Penso que esse animalzinho... É muito mais sensível do que tantas pessoas que observei ali e... Que se dizem... Humanas.