Era dia de Carnaval

Resolvi sair pelas ruas e avenidas da minha velha Itabira para ver o movimento de Momo.

Afinal era domingo de carnaval.

Havia dias que estava fora de minha cidade, por tal razão ainda não tinha conhecimento da programação.

Fui até o meu antigo bairro Bela Vista, berço da minha Escola de samba, Mocidade da Belinha.

Nenhuma movimentação.

Lembrei da década de 80 quando arrastávamos centenas de foliões pelas ruas do bairro ao som da bateria da Mocidade da Belinha.

Fiquei triste, nenhum barulho de tamborim.

Resolvi descer a pracinha do Pará, não encontrei uma viva alma.

Lembrei da Escola de Samba Nove de Outubro, a alegria de Zeca, e do Tio Murilo.

Uma saudade imensa invadiu a minha alma.

Fui até as proximidades da casa do Tobias para ver se ouvia pelo menos um tambor.

Perdi-me no silêncio.

Segui para a Vila Amélia, com a certeza de que ali havia alegria.

As portas da casa de Dona Dulce encontravam-se fechadas.

Naquele momento dei vontade de desaparecer de Itabira.

Aquilo não podia ser verdade.

Meu Deus, era dia de carnaval!

Voltei para o centro histórico.

Sentei-me no banco da pracinha Eurico Camilo, comecei a pensar.

O que fizeram do nosso carnaval?

Com qual interesse destruíram uma festa que foi reerguida com tanto sacrifício no final dos anos 70?

Só Deus sabe a luta que eu, Felipão, Tuca, Dimas, tio Murilo, Zeca, Valtinho da Etagel, Ducelina, Tobias, Dedé, no o comando da competente Miriam Brandão, tivemos para transformar o carnaval itabirano em um dos melhores de Minas.

Porque tanto descaso nos dias atuais?

Porque uma cidade que está inserida na Estrada Real com excelentes condições, não tem carinho para organizar uma festa que é tradicional em todo Brasil?

Porque não segue o exemplo das outras cidades históricas de Minas?

Porque induz o itabirano a morrer na BR-381 em busca de lazer, se aqui poderia tanto oferecer?

Porque contratam bandas que tocam de tudo, menos musicas de carnaval?

Porque baianizaram a nossa festa?

Até quando temos que engolir tais pessoas incompetentes que ao longo dos últimos trinta anos vem destruindo e sepultando a memória da nossa cidade?

Sabemos que a maioria dos responsáveis em promover a festa não tem vinculo algum com a nossa historia.

São verdadeiros pára-quedista, tapados que prestam desserviço a nossa Itabira.

A cidade estava triste e vazia.

Um silêncio de cemitério tomou conta das ruas nos quatro dias de momo.

A chuva que caia, molhando os telhados e o asfalto, acalentou um pouco a minha alma, e fez renascer um pouco de esperança.

Esperanças de novos tempos aqui na cava do Cauê.

A água da chuva misturou-se com minhas lagrimas derramadas face abaixo.

Entrou pela minha boca com um gostinho salgado de saudade.

Saudade daquele tempo em que Itabira era de verdade, e respeitava as tradições de seu povo.

Marconi Ferreira
Enviado por Marconi Ferreira em 30/03/2012
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