A SAUDADE DÁ SAUDADE.

Saudade em sua pluralidade deixa a gente com o coração apertado no desejo de reviver os momentos que se foram. Saudade da caminhada diária até o Grupo Escolar, onde a calçada, ainda de barro, marcava fundo o ir e vir de um caminhar desconcertado e pueril.

Saudade da cartilha, do caderno, do lápis e borracha, carregados na mão, pois era todo o material que possuíamos. Parco em quantidade, mas suficiente para embasar um futuro, até aquele momento, incerto. A nostalgia bate, só de relembrar o quintal da casa que morávamos, um pequeno pedaço de chão, que abrigou todos os meus sonhos e esperanças de criança. Aquele foi o quintal das minhas brincadeiras de roda, pega-pega, amarelinha entre tantas outras. O quintal de que quando o cansaço batia, era só deitar no chão de terra batida, e apreciar o passar do tempo sem pressa, naquela sua imensidão e mansidão.

Saudade das canções que Dona Maria, a vizinha, entoava ao pendurar suas roupas no varal, sempre saudosa da sua Itália. Um canto cadenciado, que talvez atenuasse as suas lembranças nostálgicas, e que agora faz parte da minha memória saudosa.

Saudade do empório, onde comprávamos o pão, leite e um docinho de quebra. O dinheiro era pouco, mas a sensação de felicidade era maior.

Saudades dos namoricos no portão, sob os olhares curiosos da vizinhança. Saudade da cansada caminhada rua acima, a tardezinha, voltando do trabalho. A calçada, já pavimentada, alicerçava um andar mais compassado em direção a um futuro ainda incerto.

Ah! Saudade, como pode uma só palavra abrigar tantas lembranças. idéias, pessoas, lugares, costumes que já não existem mais, mas que estão vivos na saudade que levamos conosco pra sempre.Ah!! Saudade, quanta saudade.