Tal qual um graveto no bico do anú

Sair do chão e voar sem ter asas. Essa é a dádiva dos que escrevem e sonham acordados.

Dos que passeiam por verdes campos, sobrevoam os fétidos lixões e observam o gado que pasta, que corre, que se espreme nos coletivos. Voam alto, bem diferente do voo raso dos idiotas, que passam preciosas horas olhando para a tela brilhante de um aparelho eletrônico procurando o último lançamento do "miami bass funk carioca nacional", que arrancam de suas páginas as pétalas da última flor do lácio.

Só os que voam sabem que nem tudo são flores, por isso, choram e deixam a lágrima cair lá de cima. Quem escreve voa tão alto que percebe que Deus não se encontra no céu. Pode estar na pata do besouro, no ferrão da abelha ou nas feridas do leproso.

E voando o escritor segue sua jornada. Cheia de distorções, fantasias e divagações...mas tudo com alma, pois quem escreve ficção ou realidade, vez ou outra se esquece de esconder as próprias entranhas e deixa algo identificável, aquela tatuagem, feito impressão digital, que provoca no leitor a sensação do frio que paralisa ou do calor que inquieta.

Quem escreve não consegue se esconder por inteiro, não sabe mentir direito, termina por se entregar sem querer.

Quem escreve voa sem medo de cair, pois, se acaso isso ocorrer, não importa onde é que vai ser.

BORGHA
Enviado por BORGHA em 10/04/2012
Reeditado em 12/04/2012
Código do texto: T3604670
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