João bobo

Não era esse seu nome, mas por ser de pouca conversa e de muito sorrir, recebeu o apelido de João bobo. Ninguém sabia ao certo de onde viera. Chegou á cidade em um dia de quermesse e foi ficando. Havia muita especulação em torno dele. Inventavam que era foragido da justiça, e houve até quem sugeriu que ele era extraterrestre estudando os costumes da terra. O certo é que o homem não incomodava ninguém, mas também não falava sobre sua vida. Inicialmente dormia no coreto da praça, e passava horas na rodoviária observando o embarque e desembarque do povo. É fato que quem não faz nada acaba incomodando quem trabalha, e a população não estava gostando nada de ver o sujeito atoa. Foram até o delegado exigir que desse jeito na situação, pois segundo eles, o moço estava dando mal exemplo aos mais jovens. Para se livrar daquela gente honesta, mas faladeira, o policial prometeu solucionar o problema. Encontrou o responsável pela quebra da sua tranquilidade dormindo de boca aberta no coreto, em pleno meio dia. Foi preciso sacudir o cabra para conseguir acordá-lo. Não houve meio termo, o delegado deixou claro que se o sujeito não arrumasse logo uma ocupação ia ser obrigado a deixar a cidade. Ali não se admitia vagabundos. O moço prometeu se emendar e procurar trabalho. Não foi nada fácil cumprir a promessa. O povo queria que o homem trabalhasse, mas ninguém queria dar emprego. Em nenhum comércio da região e nem mesmo em casa de família, foi empregado. Um dos motivos da recusa é porque o homem falava por monossílabo e sorria demais. Em uma cidade pequena esse comportamento logo desperta suspeita. O moço então continuou a fazer o mesmo ofício de antes. Dormir. Instruídos pelos pais, a molecada passou a atormentá-lo. Jogavam água para acordá-lo, queimavam sua cama de papelão quando ele se afastava do coreto, debochavam quando ele passava. Um pouco afastado da cidade funcionava uma casa de prostituição. Uma tarde a dona de tal casa passando pelo coreto surpreendeu um dos moleque jogando água no rapaz adormecido. Esse ao ser despertado de forma tão rude, não esboçou nenhuma reação. Apenas sorriu. A mulher penalizada com a situação, o levou para trabalhar e morar no prostíbulo. As famílias de “bem” da cidade, não engoliram a afronta e fizeram de tudo para que o delegado de novo intervisse, ele frequentador assíduo da tal casa, fez se de morto. Foram então atrás do padre, mas esse estava farto da mesquinharia daquela gente e mandou que fossem cuidar das suas vidas. O homem passou a ser chamado carinhosamente pelas putas de João bobo. Certa noite um carro luxuoso parou enfrente ao bordel e dele desceu um homem muito bem vestido. As mulheres logo se aproximaram para oferecer seus serviços, mas foram informadas de que aquele rico senhor estava ali para buscar seu filho querido. O rapaz sofria de uma leve demência e de vez enquanto fugia da mansão onde morava. Reginaldo se despediu e entrou no automóvel do pai. Por muito tempo as prostitutas sentiram falta do amigo João bobo e do seu inocente sorriso. 12/04/12