Felicidade existe?



 
            Acho que a primeira resposta que vem na cabeça do leitor é de que não existe a tal da felicidade.
            Mas vou aqui, em um dia tristíssimo para mim, em que teria que dizer que não existe a felicidade, vou aqui afirmar  que ela existe, sim! Talvez, reconheço, seja mais fácil dizer que  a alegria, sim, essa existe.
            Descobri a alegria nas pequeninas coisas da vida da gente. Já que não temos capacidade para entender as grandes coisas, como a própria vida, o universo, o ser humano, podemos fazer isso: olhar em torno de nossas vidinhas cotidianas e sentir prazer das pequenas coisas que nos acontecem. Sempre afirmei, também, que nada na vida deveria crescer muito, nem pessoas, nem instituições, nem países. Já até citei o caso do Forum da minha cidade, pequenino, aconchegante. Os advogados se confraternizam em uma pequena e única sala. Chegávamos a trocar receitas de bolos. Pois bem: construíram novo Forum, um verdadeiro palácio, grandioso. Agora, para falar com um colega temos que  atravessar grandes salões. Resultado: desapareceu a nossa humanidade, ninguém se confraterniza mais, perdemos o contato...  
            Mas dirá o leitor atento, desejando voltar ao princípio da nossa conversa: - Mas como? Como, você que está nos dizendo isso, neste dia tristíssimo, vai tirar alguma felicidade, ou alegria, como você quer nos convencer?
            Mas é aí que está o segredo, meus amigos e amigas. Há sempre algo que poderemos tirar para nos fazer a alegria do dia, pelo menos. Vou contar aos amigos que hoje, neste meu dia tristíssimo, tomei conhecimento que o grande intelectual  Millôr morria de medo de uma simples barata. Quem tem lido minhas crônicas,  deverá se lembrar que confessei com todas as letras esse meu medo ancestral de uma simples barata. Morri de vergonha dos amigos com esta confissão. Pois não é que esta notícia do Millôr, homem de estatura intelectual imensa,  possuidor do mesmo medo meu, me deu grande alegria?
            O que quero dizer é que temos a capacidade de encarar um fato da vida com maior ou menor dramaticidade e partir até para a comicidade. Rir do fato. É o que digo em tirar alguma  felicidade da vida.  Mas hoje o dia é tristíssimo para mim.!
            A notícia do Millôr é engraçadíssima. O fato aconteceu em Nova Jerusalém, no Estado de Pernambuco. Quem contou, pelo jornal,  foi a cronista Cora Rónai. Lá pelos anos 80, ela e o Millôr foram assistir ao conhecido teatro de massa, convidados pelo Walmor Chagas.
Ficaram hospedados numa velha casa de fazenda. No quarto em que dormiriam, houve uma invasão de todos os insetos da região, inclusive baratas. Foi o suficiente para o nosso Millôr, mais veloz que o raio, se esconder no banheiro. O Walmor e um outro artista deram assistência espiritual do lado de fora da casa, depois dos gritos de socorro. Precisou alguém da terra entrar na casa, para matar todos os insetos, e até um rato que surgiu de repente. Na hora em que o salvador da pátria ia matar o rato com uma vassourada, a Cora Rónai gritou: - Não, não mate aqui!  Foi nessa hora que todos ouviram a voz do Millôr, trancado silenciosamente no banheiro:  - “Mata! Mata! Mata! Isso não é hora de fazer ecologia!”
Queridos leitores e leitoras, não é pra se tirar alguma alegria de um fato desses?
Mas hoje é o meu dia mais triste!
Sei, estão pensando, mas o que houve com o Gilberto, hoje?       
Desculpem-me amigos e amigas, são meus  velhos problemas existenciais, “encucações” habituais e  que teimam em vir à tona,   não quero tirar a felicidade de meus leitores!