ONDE VOCÊ PENSA QUE VAI COM ESTAS BATATAS?

Eu com uns dois anos e meio de idade “fugi” de casa, quer dizer, pelo menos, foram estas as palavras que minha mãe usou para contar a minha pequena escapada, a qual não me lembro nada.

Numa manhã não tão ensolarada, como me contaram, eu sai portão afora, sem ninguém perceber e fui até um empório próximo de onde morávamos.

Segundo informações, aquele era um pequeno estabelecimento, onde oferecia-se de tudo um pouco, num diminuto espaço pra se movimentar, devido ao entulhamento das mercadorias. Os donos, um casal de Portugueses muito simpáticos, serviam a freguesia sempre com a caderneta aberta e anotando tudo para todos. Poucos adentravam o recinto com dinheiro na mão para pagar no ato.

Enfim, prosseguindo com a tal história da minha escapadela, eu cheguei na porta da citada mercearia no meu passo cambaleante e segundo testemunhas, me aproximei do saco de batatas. Sem me preocupar com os observadores, eu comecei a pegar as batatas. Na minha, humilde ganância, se assim posso descrever numa licença literária, eu tentava agarrar várias batatas ao mesmo tempo, com minhas mãozinhas em forma de concha, que mal podia conter uma unidade. As batatas teimavam em cair, mas eu na minha persistência ou teimosia continuava naquelas frustradas tentativas. Num dado momento, na maior displicência eu, simplesmente, segurei o meu vestido pelas pontas e consegui acomodar duas batatas no côncavo que o tecido formava e segui o “meu” caminho. A partir daí, minha mãe já se encontrava nas imediações e só estava a observar o meu ato pouco convencional.

Eu ainda, ensimesmada nas minhas ações, cuidando para as batatas não caírem, nem me dei conta da presença dela e continuei pela calçada. Agora, pergunto-me, para onde eu iria com as batatas? Bem, não passou muito tempo eu escuto ao longe, um chamado com uma voz bem familiar dizendo: Onde você pensa que vai com estas batatas?

Pronto, ali terminava a minha fuga, interrompida bruscamente, levei um baita susto e lá se vão as batatas rolando na calçada indo parar no meio fio. Eu muito insatisfeita com o desfecho da minha excursão, começo a fazer beiço de quem ia começar a chorar. Minha mãe sem se abater pela minha cara de choro, pega na minha mão, vai atrás das batatas, já alertando-me pra devolvê-las e voltarmos para casa. Vai como que me arrastando de volta pra mercearia e devolve, agora as já famosas batatas, um pouco amassadas, mas pedindo mil desculpas aos donos, que retribuíram com sorrisos amáveis, dizendo que não tinha problema.

Por fim, pelo que minha mãe conta, já recuperada do susto que ela também levou, voltamos para casa. Segundo minha genitora, ela tentou explicar pra mim, que não eu não podia sair de casa sozinha, não podia pegar coisas dos outro sem pagar, onde já se viu uma coisa destas e ... coisa e tal. Bom, da ladainha não me lembro nada. Depois de passado o sufoco só restou trancar todas portas e portões.