Amanhecia, não havia ninguém na rua

“Amanhecia, não havia ninguém na rua.”

Acordei dormente. A janela me mostrava um dia sorrindo. Levantei-me e arrastei-me até ela. Lá fora, a rua dormia. As casas, com seus olhos fechados, recebiam os primeiros afagos do sol. O jornal, entre as grades do portão, pedia-me que o livrasse, pois queria-me falar do ontem. Fui até ele. Não o livrei imediatamente, mas, de pijama, quis ir até a rua.

Por ter o sol mal se levantado, as árvores, os postes, os sobrados, seguravam boa parte da luz que teimava em se esgueirar por entre os espaços deixados pelos obstáculos. O silêncio dominical deitado naquela rua era embalado pelos sabiás, canários, bem-te-vis. O ar claro e o cheiro de sol me dopavam e eu, eu só, permanecia ali, plantado. Não havia nenhum outro eu, todos os outros eus... os outros...

A rua dormia, e não seria eu a acordá-la naquela manhã de domingo. Entrei. Ainda de pijama, fui verificar o que aconteceu ontem. Voltei à janela, e o dia ainda sorrindo mostrava-me o despertar dos olhos das casas com seus aromas de café.