Proposta de amor

Assim que Ângela chegou a Divinópolis, vinda de São Raimundo Nonato, no Piauí, formou um grande círculo de amizades, com o jeito nordestino e o humor cheio de encantos. Onde ela chega, logo se faz uma rodinha para escutar os casos singulares sobre os costumes da terra natal.

Em seu sangue corre o gosto pelas festas, pelas danças e sem demora encontrou um bom lugar, a fim de dançar o forró, às terças-feiras, o Lar dos Idosos, que acolhe todas as gerações para celebrar a alegria. Ângela não perde uma só terça-feira. E se apronta toda catita. Muito vistosa, brilha e se esbalda, ao embalo das músicas.

Orlando, um jovem educado e bom dançarino, tornou-se seu par fixo.

Além do gosto pela dança, uma grande amizade floresceu entre Ângela e Orlando.

Certa ocasião, ela participava de uma missa na Catedral, quando percebeu que Orlando também ali se encontrava. Na hora do abraço da paz, ele se dirigiu até onde Ângela estava, abraçou-a, e disse-lhe ao ouvido que precisava falar com ela ainda naquela noite. Combinaram que, após a missa, se encontrariam na praça em frente à igreja.

Era uma noite bonita com a lua cheia a inspirar palavras apaixonadas aos jovens enamorados.

E ali sentados, os dois amigos conversavam. Orlando não fez muitos rodeios e procurou ser convincente em suas argumentações.

— Ângela, temos nos encontrado toda terça-feira e são momentos felizes que passamos juntos.

Ela concordava acenando com a cabeça.

— Eu andava tão triste, depressivo, e, desde que conheci você, tenho notado que minha vida melhorou. Estou tendo mais entusiasmo, mais gosto em trabalhar. Bem que a gente podia namorar pra casar.

— Que ideia, Orlando, se estamos tão bem encontrando uma vez por semana! São bons os momentos que passamos juntos. E tem outra coisa, homem só procura mulher com outros interesses e eu não estou mais interessada nessa ladainha. Sou viúva e já passei da idade de me casar novamente.

Orlando não se deu por vencido.

— Ângela, a gente pode combinar uma coisa. Faremos amor só na sexta-feira.

— Vixe Maria! De jeito nenhum!

E Orlando joga a última cartada:

— Só na sexta-feira da Paixão!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 20/04/2012
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