O QUE NÃO FAZER AO SE VISITAR PARENTES.

Meu marido, natural do Paraná e morando há pouco tempo na nossa metrópole, queria visitar uma “parenta” , a qual havia se distanciado da família e morava em Guarulhos, a sua tia Maria.

Ele quis pegar no volante e eu, paulistana calejada pelo trânsito caótico de São Paulo, já nervosa, insistia pra dirigir, pois ele não conhecia muito a região. Ele não se fez de rogado e disse que iria devagar. Assim sendo, começamos a nossa viagem pegando a Marginal em direção a Guarulhos, mas não sem antes dele me incumbir de olhar no mapa quando precisasse, pois não existia o famoso GPS, na época.

Tive que me contentar com o banco do passageiro. Não necessito dizer que o carro, ia a 60 cautelosos quilômetros por hora e ouvindo buzinada de tudo quando é lado, mas ele nem se abatia. Eu é que no banco do passageiro morria de vergonha, e, muito assustada, rezava pra tudo quanto é santo.

Depois de intermináveis minutos, ele se aprumou no volante e até chegou em alguns momentos a me impressionar nesta sua empreitada.

Bom, logo que conseguimos chegar a Guarulhos, ele vira pra mim e diz, com seu jeito bem calmo de ser, que agora só faltava achar uns prédios verdes, pois sua tia Maria morava perto de alguns edifícios daquela cor. Eu olhei pra ele sem entender, pois ele havia me dito que já havia ido lá. Ele respondeu que sim, só que o detalhe que ele não havia me confidenciado, era que isto havia sido há mais de trinta anos atrás e de ônibus. Trinta anos atrás e de ônibus???!!! Eu não sabia se ria ou se chorava dentro daquela situação.

Procurei ficar calma e sugeri ligar pra tia Maria e pedir o endereço até a casa dela. Adivinhem? Ele não tinha o número do telefone e acrescentou, que na realidade, queria fazer uma surpresa. Bom, a surpreendida até aquele momento era eu. E continuou, com toda calma do mundo, tentando me convencer que ele sabia aonde estava indo e disse que o nome da rua era alguma coisa Penteado, número 189, próximo a uns prédios verdes. Fiquei num silêncio estupefato. Eu, aturdida, me perguntava: "Como??? Ele também não sabia o nome da rua??? Então, pra que servia aquele mapa, já todo amassado pelo nervoso, que ele me fez segurar desde que saí de casa?”.

Meu marido, simplesmente assumira que só lembrando de alguns prédios verdes, o nome Penteado e o número da casa, a gente ia conseguir chegar até a casa da Tia Maria??? Logicamente, Guarulhos havia crescido muito, desde a primeira e única vez que esteve lá, prédios é que não faltavam, e com certeza já haviam repintado ou até mesmo,demolido os tais prédios verdes. Respirei fundo e rodamos a esmo por uns trinta minutos e nada de enxergarmos um prédio verde sequer. Foi aí que eu sugeri que perguntássemos pela tal rua "Penteado" e ele finalmente concordou. Ufa!

Começamos a nossa inquisição e, depois de umas tantas tentativas frustradas, um simpático taxista disse pra segui-lo, pois conhecia uma tal rua chamada Timóteo "Penteado". Assim, depois de uns dez minutos seguindo-o, inacreditavelmente chegamos à casa da tia Maria. Quisemos pagar a corrida e o bondoso motorista de táxi não aceitou.

Bom, mas o sufoco não havia terminado, pois a tal da tia Maria, ao atender à porta, não reconheceu o próprio sobrinho, pois a última vez que ela o viu fora há mais de trinta anos, quando era apenas um molecote de dezoito anos. Ela , com a porta entreaberta, começou a indagar tentando se convencer de que aquele homem com voz grossa era o seu sobrinho do Paraná. E, desconfiada, perguntava: Qual o nome da sua mãe, do seu pai, do cachorro, papagaio, enfim, só pra te certeza que aquele era mesmo quem dizia ser. E como estavam todos, e coisa e tal. Finalmente, apertando a vista, disse:E esta daí quem é? Apontando pra mim e já nomeando tudo quanto era sobrinha. Então, ele explicou que eu era sua esposa. Neste ponto ela começou a ficar ofendida, perguntando o porquê dela não ter sido convidada para o casamento. Ele, prontamente a lembrou que ela havia sido sim convidada, só que ela não foi. Bom, Tia Maria, puxava pela sua memória, que já era falha, e se deu conta que realmente não pode ir na ocasião. E durante toda esta indagação, nós estavamos parados no portão, esperando um sinal verde, para adentrarmos a residência da tia Maria e fazer a tal visita. Tia Maria, finalmente nos recebeu, mas durante a hora em que ficamos lá, não havia muito o que se conversar, tudo já havia sido perguntado lá fora no portão!!