O descaso com as estradas apaga cinco sorrisos de nossas vidas

O Brasil todo acompanhou com ansiedade a busca pelos cinco jovens que desapareceram a semana passada quando iam para uma cidade da Bahia. Infelizmente o desfecho da história mais uma vez foi triste e dramático, com a morte trágica de todos, após uma queda numa ribanceira que os jogou direto num rio. As famílias agora abandonadas pela esperança, vivem o desespero da busca pelos corpos e o silêncio sobre a causa do acidente, que jamais será esclarecida.

Muitos já escreveram sobre a violência que assola as estradas nessa região e o abandono em que vive a rodovia e o perigo que ela representa para quem a percorre. Acredito, assim como todo mundo, que possam ter sido as duas coisas juntas, eles podem ter sido vítimas tanto de assalto ou alguma emboscada por bandidos de estrada ou simplesmente, terem sido surpreendidos por algum imprevisto no caminho, que fez o motorista se descontrolar e perder o controle do carro, provocando esse triste e lamentável acidente.

Infelizmente, isso é comum no Brasil. Ninguém vai ser cobrado pela responsabilidade do acidente, nem pela má conservação das estradas que se espalham por esse país e que provocam tantas mortes, todos os dias. O povo brasileiro aprendeu a aceitar as fatalidades como consequência natural da vida, como se fosse o azar cruzando o caminho daquele que perde a vida. Mas não deveria ser assim. Corre dinheiro demais nesse país para que ainda tenhamos que trafegar ao lado do perigo por todo lado onde vamos. Acabamos de pagar o IPVA há pouco tempo, e tanto os estados quanto os municípios estão dividindo o bolo desse imposto que nos violenta pelo índice do seu percentual e pelo desvio dos objetivos pelos quais ele foi criado. Sabemos que uma boa parte dele se perde no caminho das propinas, onde quem tem por obrigação empregá-lo na conservação e manutenção de ruas e estradas, muitas vezes está contaminado pelo vírus da corrupção, e na maioria dos casos, faz apenas uma maquiagem, operações tapa-buracos, uma herança vergonhosa de atitudes administrativas de países de terceiro mundo, nações falidas que não têm de onde tirar recursos e que vão fazendo obras paliativas, para não dizer que não estão fazendo nada para o progresso do lugar.

Mas esse já não é o retrato do Brasil. A arrecadação de impostos está se cada dia mais gorda, uma obesidade mórbida que ninguém consegue enfrentar, alimentada pelo suor sagrado do trabalhador brasileiro, sacrificado com o peso de carregar nas costas a responsabilidade de sustentar esse país com praticamente um terço de tudo que ganha. E quanto mais ganham, mais gastam, mais compram carros e pagam impostos, enquanto a malha viária continua a mesma, cada vez mais desgastada, avariada e perigosa, vendo o progresso passar, estagnada na incompetência de quem administra o nosso chão, que infelizmente ainda conhece muito pouco desse progresso. E quem paga o preço pelo descaso são aqueles que ficam mutilados pela vida, seja nas sequelas físicas dos acidentes ou pelo vazio das vidas que são tragadas na metade do caminho por onde vão. Nossas autoridades por enquanto fingem que não veem, e acredito que isso seja possível, pois a maioria viaja de avião. Tivessem eles o mesmo destino de arriscar a vida para chegar aos seus destinos, talvez medidas já tivessem sido tomadas para que os recursos para o trânsito fossem realmente aplicados e nossas estradas e ruas, além de conforto e segurança nos oferecessem também a esperança de viver num país sério, onde a política fosse voltada para a dignidade de seu povo. Enquanto isso não acontece, é melhor rezar com muita fé para que Deus cuide de nós pelos caminhos... e dirigir com os olhos bem abertos!

maria do rosario bessas
Enviado por maria do rosario bessas em 25/04/2012
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