Cupins Xeretas - re-editado

O adolescente Valdir arranjou o seu primeiro trabalho, numa fábrica. Estava feliz, porque teria o seu dinheirinho e não precisaria mais ficar incomodando os parentes, quando queria comprar alguma guloseima ou gastar com ingressos para o cinema.

Em poucos meses de trabalho, ele já fizera uma economia e comprara uma bicicleta de segunda mão. Contentava-se com esta, até que pudesse adquirir uma outra novinha em folha. Sentia-se bem satisfeito em não precisar mais fazer grandes caminhadas até o local de trabalho.

O relógio o despertava e ele tomava o café com ligeireza. Era prudente sair mais cedo, para compensar algum imprevisto no caminho.

A sua velha bicicleta não era assim tão confiável e podia apresentar um enguiço a qualquer hora. Mas, naquele dia, a coitadinha não teve nenhuma culpa. Seguia ele distraidamente pela estrada de chão, quando julgou experimentar uma miragem. Mas ali não era nenhum deserto, pelo contrário, um lugar todo arborizado, com sombras agradáveis.

Recuperou-se da vertigem e avistou uma morena que exibia o rebolado mais tremido que o normal. Aquilo o intrigou por demasia, até ao âmago de sua alma. Quanto mais ele olhava, mais ela caprichava no rebolado.

Parou de pedalar e em pouco tempo já estavam os dois no meio do mato no maior dos arroubos. Servia de encosto um enorme cupinzeiro.

De repente, a mocinha dava pinote e coçava todo o corpo. É que, com a confusão do casalzinho, os cupins resolveram participar e, aos montes, grudaram naquela pele macia e foi um sufoco para o Valdir catar-lhe todos os bichinhos.

Amor selvagem, ao pé da letra, ou melhor, ao pé do cupinzeiro!

***

O amigo Pe Nico veio chamar a atenção do Valdir:

Mas também o Valdir pecou pela gula

pois ja tinha a sua bicicleta

e quem não segue certinho a bula

aí sim é que o cupim xereta!

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 26/04/2012
Reeditado em 27/04/2012
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