PESCA, SEM COMPANHIA!

Por conta de uma crise de coluna tive que ficar uns tempos de molho e posteriormente me submeter a uma intervenção cirúrgica. Passadas as intempéries do procedimento e os dissabores no fundo de uma rede durante uns tantos dias, por recomendação médica, aos poucos estou voltando à vida normal. Já pensou, o médico recomendar para o paciente ficar deitado em uma rede durante vários dias para se recuperar melhor. Depois de informados do fato, alguns amigos em comum estão tentando marcar consulta com ele até hoje! E não é problema de coluna, não! É unha encravada... caso gravíssimo!

Quando as pernas voltaram a funcionar a todo vapor, descobri um local onde poderia passar um pouco o tempo e assim esquecer um pouco das mazelas deste período. Uma lagoa, cheia de histórias e segundo alguns, de peixes também. Eu particularmente não conheço pessoalmente os donos de tão aprazível imóvel à orla destas águas, nem tanto azuladas ou cristalinas; mas os peixes ainda estavam por lá. A proprietária é cliente de minha esposa. Observando nestes dias enquanto aguardava por ela, vi um pescador atracado em uma câmara de ar dessas de caminhão, arremessando uma tarrafa e garantindo a refeição dos barrigudos. Acho que um cardume desprevenido, talvez reunido em protesto pelas águas um tanto poluídas, foi capturado e teve seu fim decretado. A frigideira do ilustre pescador teria companhia na semana vindoura.

Eureca!!! Meus insólitos dias de recuperação estavam no fim.

Após uns poucos minutos na loja, o material já estava devidamente separado. Tremei tilápias, carás, jacundás, piabas... Até isca artificial estava inclusa nos artefatos de pesca. Vara de fibra novinha com molinete, junto com um sorriso de canto e a esperança de boa pescaria na semana seguinte. Os dias e as noites foram longos. Vez por outra dava uma olhadinha no material, colocado estrategicamente na sala. Quem sabe, em visita de amigo mais desavisado, poderia falar de meus planos com os peixes.

O grande dia chegou. O caminho parecia mais longo pela ansiedade. A viagem foi feita em silêncio desta vez. O camarão que serviria de isca, já estava acondicionado em uma caixinha de isopor e os anzóis reservas, em um recipiente de plástico. Eram de vários tamanhos. Segundo comentário do vendedor lá da loja Pesque e Pague, os Tucunarés são abolutamente agressivos e vez por outra levam anzol, linha e tudo depois de uma boa mordida. A briga seria digna de MMA. Reforcei a caminhada na semana e ainda tentei algumas barras, apesar das dores na coluna. A musculatura do braço tinha que estar a altura do combate.

O grande portão de alumínio foi aberto e o caminho em direção ao paraíso foi liberado. De soslaio, enquanto diriga pela estrada um tanto estreita que margeia a lagoa em direção à casa principal, via as águas revoltas pela ação do vento. Putz... a luta vai ser boa! Minutos depois já estava de mala e cuia na beira do lago sobre umas pedras e à sombra de frondosa árvore . Lugar perfeito. Rapidamente coloquei a isca no anzol escolhido e tentei meu primeiro arremesso. A linha ficou enganchada na ponta da vara. Esqueci de destravar o molinete. O camarão desaparecera do anzol. Foi lançado em direção aos peixes famintos que decerto ficaram agradecidos com tamanha generosidade de minha parte.

Depois de algumas tentativas frustradas, consegui um bom lançamento. Os minutos foram intermináveis. Nada. Nem um beliscão. Enrolei a linha de novo e arremessei ainda mais longe. Huuummm... não seria dessa vez! Troquei de lado. Talvez fosse o vento. Nada. Se o danado parasse um pouquinho de soprar tão forte. Após algumas tentativas, o braço e a paciência estavam esgotados. Nem um mísero cará. Uma garça em mergulho certeiro trouxe uma tilápia de tamanho considerável e sem nenhuma cerimônia, a deglutiu bem ali na minha frente. Foi demais prá mim.

Minha esposa me chamou e aproveitei para "enrolar a bandeira", deixando o local. Seu sorriso ainda denotava esperanças no meu tino de pescador. Minha cara de poucos amigos foi suficiente para ela entender que faltou entrosamento nesse projeto. Os peixes não estavam muito a fim de colaborar. Mais duro ainda foi cruzar com a dona do sitio a indagar-me sobre a pescaria . Com um sorriso amarelo retruquei... - Quem sabe na próxima!