FODA OU AMOR?

Os homens de verdade, sobretudo os boêmios, sempre vão amar mais a mulher que é melhor na cama. A mulher não. Ela fica na dúvida entre o cara melhor na cama e o mais rico. E esse papo de que preferem o cara carinhoso, atencioso, sincero, fiel... É tudo balela. Só ideia.

Mas como pensara Platão: há uma diferença enorme entre o que pensamos e o que fazemos... Entre o mundo ideal e o mundo real, pois o mundo real não passa de uma projeção distorcida de nossas ideias.

Daí que certo dia saio do trabalho, ainda engravatado, e me embioco no primeiro lugar animado que encontro...

- Prazer, me chamo Sophia. Como é seu nome? Me pergunta uma moça dentro da boate.

- E daí, porque lhe diria? Para quê você quer saber? Ora, Nome até cachorro tem... Eu quero conhecer o teu caráter.

(E eu até então ainda não sabia que aquilo era uma boate, mais parecia uma festinha de aniversário de criança) Isso mesmo, era porque só tinha criança: garotos de 16 anos bebendo no gargalo da garrafa e dormindo em coma alcoólico no sofá, outros brigando e umas “mocinhas” de 14 anos com vestidinho mostrando a bunda descendo até o chão.

Enfim...

Saí e segui para um cabaré que tinha na outra rua por trás da boate. É nos cabarés onde existem as pessoas mais sinceras.

Até porque quem tem o costume de se reunir sábado à noite e pôr as melhores roupas e as melhores maquiagens, assim como quem tem o costume de se reunir dia de domingo para almoço em família são os hipócritas.

Eu não quero ser forte, quero viver muito. Por isso evito a ginástica e o casamento. Embora eu enlouqueça. Até porque o boêmio não está nem ai para viver muito... Sua predileção é viver intensamente.

Num cabaré, com qualquer ‘20 conto’ eu compro o caráter de uma mulher, chupo seus peitos, e com ela, às vezes, até faço amor. Isso mesmo, amor! Não se assuste. Pois amor não fazem os casais apaixonados. Estes o que fazem é foder.

Começa pelo café da manhã: tem pão, mas não tem queijo; quando não tem queijo, não tem pão; o leite está gelado; ninguém passou o café a tempo; ninguém quer deixar os filhos na escola... Conta de água, luz, cartão de crédito... quem paga? A empregada chega atrasada; a cueca está em cima da cama; a calcinha no banheiro... Não se aguentam e se separam.

Mas o que eles faziam não era amor?

Ôxe! Não entendo. Se são capazes de “fazer amor” toda noite, porque tanto ódio todo dia?

Sexo é sexo e não tem sentimento nem ponto final. E ponto final.

O boêmios sempre tiveram mais sorte e mais razão. Porém, a maior rapariga de um boêmio é a porra da carência. É por essa droga que às vezes ele endoida e perde tudo e toda sua vida por uma prostituta barata da esquina, do cabaré ou até daquela boate grã-fina.

É, rapaz, não se iluda... Não é só nas imundícies dos cabarés que existem quengas. Na alta sociedade tem muita rapariga sem futuro também. A única diferença são seus brincos, bolsas, sapatos e vestidos que são bem mais caros.

É uma droga!

A honra morreu. Ou melhor, foi abortada!

Ou pior, nunca nasceu. Talvez ainda seja um esperma. Ou talvez seja só uma ideia.

- Pandora, carai, mais uma dose aí! Terminei o texto que estava escrevendo. Peço eu a saideira às 5 da manhã no cabaré de Pandora.

- Gorete, ‘mulé’, vá vá... Leve logo a dose desse fresco se não ele vai ficar aqui galando enchendo meu saco. Responde Pandora.

Deixo a caneta cair. Dobro a folha que escrevi este texto, meio molhada com a marca do suor do fundo do copo que ficou na mesa, guardo-a na minha carteira e sigo caminhando pra casa, com óculos escuros na cara, dando bom dia ao povo de calçada em calçada.

Mais triste do que o fim só o desespero e a angústia dos recomeços.