O maioral

Sempre foi irritantemente seguro de si. Criado na mais completa liberdade, nunca teve limites. Era o caçula, podia tudo. Quando decidiu que não gostava de estudar, não o forçaram. Para quê? Qual a serventia se o menino se dava tão bem lidando na roça, se o trato com os animais para ele não era segredo. Se entendia de criação como ninguém! Tornou-se adulto acostumado a mandar. Nem a mãe e a irmã escapavam da sua prepotência. Era o rei em casa. Se algo o desagradava era rude e até mesmo violento. Também se achava o tal na arte da conquista. Todo o sábado se arrumava (cafonamente) e ia para o forró a caça de mulheres. Não era bonito, mas não era de todo desagradável. Oque impressionava a primeira vista eram os olhos azuis, que se tornavam esverdeados quando era contrariado. Era bom de papo e por isso vivia cercado de mulheres. Algumas até se apaixonavam, apesar dele ser incapaz de uma atitude carinhosa. Seus amigos em geral eram adolescentes. Esses o veneravam e muitos tentavam imitar seu estilo. Era presença aguardada nas cavalgadas por montar bem e distrair os mais jovens com as suas bravatas. Dançava,jogava,e sempre tinha um galanteio para as mulheres. Nada muito romântico, pois para ele isso era frescura. Gabava sem constrangimento sobre suas conquistas. Foi traído pela vaidade ao conhecer uma bela moça. Quis mostrar á todos que para ele, não havia conquista difícil e a pediu em namoro. Descobriu então que era um simples mortal ao se apaixonar. Essa moça conseguiu oque muitas tentaram, sem sucesso. Levou o maioral ao altar. Durante algum tempo tudo correu bem.Por estar apaixonada, a menina não via o lado ruim do marido. O admirava por gostar de fartura e por ser muito trabalhador. Essa ilusão não demorou muito, logo ela percebeu que se casara com um homem egoísta, prepotente, pretencioso. Se ele trabalhava muito, era para mostrar aos outros que não era fraco. Se gostava de fartura, era para provar que não dependia dos outros, e para mostrar para a família da esposa que em sua casa havia de tudo, mesmo que fosse só comida. Passado o ardor inicial ele passou a preferir a companhia dos animais e relegou a mulher o segundo plano. Foi tanto o descaso que o amor da sua esposa foi esfriando e sem que ele percebesse, chegou ao fim. Nenhum casamento resiste á solidão. Muitos anos ele passou se julgando melhor do que todos á sua volta, mas um dia se sentiu cansado pela árdua luta desnecessária. Viu que desperdiçou sua vida, que se tivesse sido mais humano, teria agora saúde para viver os anos restantes e poderia ter ainda ao seu lado a única pessoa que amou de verdade. Sua esposa. 20/05/12