Gorjeta que vira Obrigação

Era aniversário de um colega, este ocorreria em um luxuoso restaurante da cidade. Adentrei o estabelecimento e logo identifiquei que era o endereço correto, pois já estavam espalhados alguns conhecidos meus. Após muita conversa e as apresentações de praxe, começaram os famosos cânticos de felicitações ao aniversariante. Cada grupo sentou-se em uma mesa e o banquete começou a ser servido.

De tudo isso, o que mais me encafifava era o garçom, enquanto minha mesa ele servia com um mau humor do cão, nas outras abria um sorriso que resplandecia nos lábios. Entendi a jogada, quando um senhor sentado na mesa ao lado deixou uma gorda gorjeta ao funcionário, antes mesmo do início do serviço.

A partir daí comecei a perceber a diferença que algumas cédulas além do valor cobrado fazem na mente do prestador de serviços. Seja desde o taxi, caso se queira chegar mais rápido, até ao simples açougueiro, para se obter as melhores partes da peça de carne. Outro exemplo clássico destes abusos são os manobristas.

Antigamente estes apenas abriam a porta do carro. Hoje antes de abrir, uma mão aberta se estende na nossa frente, meio que “obrigando-nos”, a pagar uma taxa extra pelo serviço.

O ruim é que caso não se dê tal benemérito, você é intitulado como pão duro, unha de fome... E como a fama corre, depois de um tempo, os amigos, o vizinho, e até aquele tio chato, sabem, o quão mão de vaca você é.

Disso tudo acho certo quando se cobra, por exemplo, uma taxa de serviço em hotel, caso contrário apenas o carregador de malas, a recepcionista, e o rapaz que leva as refeições ao quarto, receberiam um dinheirinho extra, enquanto o coitado que está lavando os toaletes ficaria sem nada.

Chego à conclusão de que o valor da gorjeta tem de vir do íntimo de quem utilizou tal serviço, e não ser imposto como uma obrigação. Imagine se o médico ou o cirurgião, para salvar a vida de determinado paciente, exigissem uma gorjeta a mais para a realização do serviço? Independente de obrigação ou não. Decidi: posso levar a fama de pão duro. Mas gorjeta comigo... só quando achar que merecem!

Vinícius Bernardes
Enviado por Vinícius Bernardes em 21/05/2012
Código do texto: T3680166
Copyright © 2012. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.