A indústria do casamento

Queria ter uma máquina do tempo. Não para me impedir de brigar com aquela amiga há 10 anos ou deixar de comprar aquele vestido caríssimo que nunca usei. Eu visitaria o passado apenas para presenciar o exato momento em que a primeira das empresas achou que podia cobrar um preço absurdo por um serviço de casamento. O instante em que os noivos, nervosos, ouviram aquele orçamento e assinaram o contrato. E aí, eu gritaria com toda força das minhas cordas vocais: “Vocês estão loucos?!?!?!”

Talvez faça sentido para alguns que seis horas de cerimônia e festa custem a entrada no pagamento de um apartamento, e sejam mais caras do que uma longa viagem pela Europa. Afinal, esse é o mesmo mundo em que pessoas se batendo em um ringue ganham muito mais dinheiro do que professores. Mas eu ainda acho insano.

É injustificável que apenas um salão custe quatro mil dólares. Sem decoração. Que o buffet cobre por pessoa um valor mais alto do que qualquer um pagaria pela maioria de suas refeições completas em um restaurante. Que o buquê da noiva seja tão mais inflacionado do que um arranjo de flores lindo que ela talvez tenha recebido no último Dia dos Namorados.

A palavra “casamento” funciona, nessas horas, como um feitiço. Como dizer “abracadabra” e ser transportado para um mundo no qual TUDO é premiado com o dobro, o triplo, o quádruplo dos preços da vida real. Talvez essa teoria absurda me faça entender melhor como uma boa maquiagem e penteado se tornam quatro vezes mais caros para uma noiva do que são para as outras meras mortais usufruindo do mesmo serviço nas cadeiras ao lado.

Ter o saldo no banco assassinado pelo direito de comemorar as trocas de aliança com a família e amigos fica ainda mais frustrante na hora de definir os convidados. Quem vai? Quem não? Quanto corações vamos ferir? Quantas cabeças precisamos cortar para não estourar o orçamento? Se já dói na hora da decisão, a situação só piora quando é preciso lidar com a reação dos outros.

Além de ser impossível agradar a gregos e troianos, impraticável incluir na lista todos que gostaríamos, ainda vai haver quem ache pouco! Casais reclamando porque não foram enviados convites para seus cinco filhos, amigas querendo acrescentar seus namorados desconhecidos, vizinhos implorando para levar cachorro e papagaio, parentes que nunca te ligam chorando por terem sido esquecidos...

Casar virou uma tradicional festa de custos altíssimos. Tornou-se um evento feliz de seis horas precedido por longos meses de dores de cabeça e desgaste mental e físico. Ficou um evento tão nos extremos e contraditório que até ganhar presentes, um dos maiores prazeres da vida, é estressante. Um projeto tão louco que faz você bancar a festança toda e ainda ter que dar lembrancinhas para os convidados, mas nem assim você estará imune a línguas afiadas, prontas para reclamar de qualquer traço de economia no dia do casamento.

É exatamente como mostram nos contos de fada... ou não!