Chaves- Um seriado de terror

Roberto Gomes Bolaños. Certamente que você já deve saber de quem eu estou falando. Isso, é ele mesmo, o autor e ator principal do seriado mexicano “EL Chavo Del Ocho” ou no Brasil “Chaves”.

Bolaños, também conhecido como Chespirito (Pequeno Shakespeare) é um escritor e ator mexicano. Foi responsável durante muito anos pelos principais sucessos da emissora Televisa. Sua capacidade de escrever rendeu-lhe prêmios internacionais, além de grande reconhecimento público.

Aqui no Brasil ficou conhecido pelos humorísticos “Chaves” e “Chapolin”, lançados na TV local no início dos anos 1.980. O sucesso era absoluto. Com um jeito simples de humor, tais séries “tocas”, diga-se de passagem, levavam a emissora TVS/SBT a índices de audiência elevadíssimos. Por várias vezes, o seriado Chaves era exibido em diversos horários para impulsionar a programação a seguir. Tal série foi exibida em todos os horários imagináveis, de manhã, à tarde, à noite e de madrugada.

Como uma série tão simplória como Chaves, sem efeitos especiais, sem palavrões e sem cenas de nudez, gravada há tantos anos, até mesmo com personagens já falecidos pode fazer um sucesso tão absurdo. São gerações e mais gerações que assistem Chaves. No Brasil e no mundo todo, dublado em diversos idiomas. Até mesmo os dubladores da série se tornaram ídolos do público.

Bem, vamos conhecer um pouco sobre o que oculta a série Chaves.

Quando Bolanõs escreveu a série, a princípio sua intenção não era um seriado para crianças. Se observarmos bem, notamos que nessa série não há nada que a classifique com simplicidade.

Chaves é uma série violenta, extremamente violenta. As crianças nos momentos que brincam entre si costumam ferir umas às outras com socos, pancadas e xingamentos, muitos xingamentos, nesses tempos onde se fala muito de booling. O personagem Kiko por vezes é chamado de burro. As crianças chamam os adultos por palavras ofensivas como “Velha”, “Gordo”, “Bruxa” e tantos outros nomes. Por vezes, brigam e se atacam, seja com as mãos, seja com objetos.

Em muitas dessas brigas, a vítima costuma desmaiar. Em alguns poucos episódios, especificamente os primeiros, há cenas de sangue.

Talvez os tapas que Dona Florinda dispensa em Seu Madruga podem parecer engraçados. Porém em outros momentos, ela o agride de forma muito violenta. Ataca com cadeiras, bolas de boliche, vassouras e toda a sorte de objetos. Seu Madruga desmaia, quebra pernas e braços, vai ao hospital, etc.

Chaves sempre agride o Senhor Barriga. Já bateu nele com tantas coisas que nem dá para descrever. Há situações que a Chiquinha, filha do Seu Madruga chora ao ver Dona Florinda ou o Professor Girafales agredirem seu pai, temendo pelo pior.

Então, caro leitor, eu pergunto, por que tanta violência. O que inspirava o senhor Roberto a escrever dessa maneira. Agora, pedirei a você um pouco mais de paciência, para justificar o título desse texto como sendo “Um seriado de Terror”.

Primeiramente, citarei alguns dos mais violentos episódios de Chaves. Certamente, você se lembrará deles, apenas com algumas descrições. Aí vão...

1- Houve um episódio de Chaves o qual assisti ainda criança. Nele, o Senhor Barriga se joga em cima do Seu Madruga e o esmaga. Seu Madruga vira um “papel”. Se isso fosse verdade, ele estaria morto.

2- Em um outro episódio, Dona Florinda ataca Seu Madruga com uma panela. Ela lhe dá tantos golpes que Seu Madruga encerra o episódio desmaiado no sofá.

3- No episódio das “Pichorras”, Dona Florinda solta uma “Pichorra” (espécie de boneco cheio de doces, o qual precisa de uma pancada com um bastão para se quebrar) sobre a cabeça de Seu Madruga, aparentemente sem motivo. Ele desmaia.

4- Nas muitas cobranças do aluguel não pago, Seu Barriga e Seu Madruga começam a brigar de socos. Entretanto, quando ambos dão seus golpes, quem é atingido é o Quico, ou seja, dois adultos dão golpes de soco em uma “criança”.

5- Num dos mais bárbaros episódios, Dona Florinda prega Seu Madruga dentro de uma caixa de madeira. Sem ar, ele morreria, como dentro de um caixão.

Bem, acredito que se for citar todos, o texto ficará maior ainda. Novamente vem a pergunta: por que o senhor Bolaños gostava tanto de escrever violência? Bem, na verdade, o que percebemos é que sua intenção era retratar o terror, ao invés do humor. Citarei agora alguns episódios, nos quais ele apela para o ocultismo...

1- Em um certo episódio, por ordem do Seu Madruga, as crianças são encarregadas de entregar um jornal na casa da Dona Clotilde, a tal “Bruxa do 71”. Na porta da casa, eles imaginam que entram mesmo na casa de uma bruxa. Ela aparece vestida à caráter, e chama seu gato pelo nome de “Satanás”. Prepara feitiços e joga um boneco de Seu Madruga no caldeirão. Depois, tudo não passa de imaginação das crianças. Entretanto, comenta-se que essa mudança no final só ocorreu por ordem dos autos executivos da Televisa;

2- Em outra ocasião, Dona Clotilde tem um cachorrinho. O nome dele é “Satanás”;

3- No famoso episódio dos “Espíritos Zombeteiros” a mesma Dona Clotilde invoca espíritos em uma mesa, na casa de Seu Madruga;

Em várias outras ocasiões, personagens se fingem de mortos, seja por atropelamento ou por alguma agressão física. Mas o pior ainda está por vir, portanto meus caros, mais paciência, porque o que irão ler a seguir, certamente vai mexer com vocês.

No final de 1.977, Carlos Villagrán (o Quico) brigou com Roberto Bolaños. Os motivos nunca foram citados de forma clara. Carlos deixou a série e Ramon Valdez (Seu Madruga) também.

Sempre que foi perguntado a Carlos esse fato, ele usou como desculpa sentimentos de ciúme por parte de Roberto, dada a popularidade de Quico na série. Por muitos momentos, Roberto aparentemente tentou por fim à série. Até o momento que o fez sem dar grandes explicações. Ele se reservava ao direito de tomar suas decisões sem dar explicações.

Na temporada de 1.978, a equipe teria gravado um episódio, o qual, segundo Carlos e muitos outros, possuía um conteúdo absurdamente inadequado.

O episódio piloto chegou a ser gravado, e mesmo editado, para posterior apresentação perante os executivos da Televisa. É dito que eles teriam ficado horrorizados com o conteúdo. Um diretor de programação, à época, teria dito que o programa era “absolutamente impróprio para crianças, e, na verdade, absolutamente impróprio para qualquer um”.

A gravação original deste episódio foi destruída pela Televisa. Contudo, uma cópia clandestina foi feita por um funcionário da emissora. Essa copia teria sido vendida para um colecionador argentino em 1996, numa transação que teria envolvido algo em torno de 4 mil dólares.

O depoimento a seguir é um compêndio de declarações de alguns funcionários da Televisa que, à época, foram submetidos à exibição do programa. Todos eles pediram para não ser identificados. Poucos chegaram a ver o episódio finalizado e editado, e alguns destes já vieram a falecer.

“A partir da temporada de 1974, o Chaves foi ganhando destaque na programação da Televisa, e conseguindo cada vez mais sucesso junto ao público. Bolaños, porém, artista inquieto que era, queria introduzir mudanças no programa. Poucos sabem, mas à época, Bolaños fazia planos de escrever roteiros de mistério e horror, e abandonar os humorísticos.

Durante a temporada de 1975, Bolaños tenta introduzir alguns desses elementos no ‘Chaves’. Neste ano, vai ao ar o célebre episódio em que Chaves, Quico e Chiquinha entram na casa de Dona Clotilde, e lá, descobrem que ela era, de fato, uma bruxa. Originalmente, o roteiro previa que a incursão deles à casa da bruxa realmente aconteceria, e a descoberta deles teria implicações em episódios futuros. Executivos da Televisa interviram, e impuseram o final que foi ao ar: tudo não passava de um delírio das crianças.

Ainda nesse ano, vai ao ar um episódio em que as travessuras e trapalhadas de Chaves fazem com que vários moradores da vila comam insetos embebidos em gasolina. O roteiro original previa um programa mais sombrio e grotesco, mas novamente foi alterado por diretores da Televisa.

Nos dois anos seguintes, Bolaños continuou a introduzir elementos sobrenaturais, de horror ou mistério, nos episódios do Chaves. Episódios como aquele em que as crianças assistem um filme de terror, e a ‘saga’ dos espíritos zombeteiros são frutos dessa influência de Bolaños.

No início de 1978, Bolaños decidiu mudar radicalmente o programa. O Chaves, a partir de então, seria um programa de comédia com elementos de horror, mirando um público mais adulto. Mal comparando, algo semelhante à série de filmes ‘Evil Dead’. Ele escreveu um episódio piloto nessa linha, que chegou a ser filmado e exibido aos executivos de programação da Televisa. A reação foi absolutamente negativa. Os executivos vetaram terminantemente a mudança de rumo proposta por Bolaños. Carlos Villagrán, o Quico, ficou tão horrorizado com o resultado final do episódio que deixou a série.”

A seguir, uma sinopse do conteúdo de tão controverso episódio. Essa sinopse foi escrita a partir de diversos depoimentos de funcionários da Televisa que chegaram a ver o programa finalizado e editado, ou que participaram da gravação, ou mesmo que tiveram acesso ao roteiro.

O episódio começa com Chaves brincando no pátio da vila, indo para lá e pra cá em um patinete. Quico sai de sua casa, vê Chaves brincando e faz expressão zangada. Vai até ele, e segura o guidom do patinete com as duas mãos. Segue-se um diálogo:

-Chaves, quem te deu permissão para mexer nos meus brinquedos?

-É que o patinete estava jogado ali no outro pátio e eu… eu…

Quico fica mais zangado:

-Eu coisa nenhuma Chaves, devolve aqui meu patinete.

Ato contínuo, Quico puxa o patinete bruscamente, derrubando o Chaves. Quico deixa o patinete no chão e ri escandalosamente. Chaves levanta, pega do patinete, empunha-o e avança sobre Quico.

-Agora você vai ver só uma coisa, Quico!

Quico corre e grita “Mamãe!”. Neste meio tempo, Seu Madruga sai de sua casa, e toma o patinete de Chaves, impedindo que ele acerte Quico. Dona Florinda vem para o pátio, apressadamente.

-Mamãe, ele queria me bater com o patinete!

Dona Florinda dá um tapa em Seu Madruga. Diz:

-Vamos tesouro. Não se junte com essa gentalha.

Volta para dentro. Quico aplica o tradicional “gentalha gentalha” em Seu Madruga, e também volta para sua casa.

Nesse momento, um primeiro plano de Seu Madruga revela que seu nariz está sangrando. Ele tenta estancar o sangramento, sob o olhar preocupado de Chaves, mas sem sucesso. Ambas as narinas deitam uma grande quantidade de sangue, até que Seu Madruga cai no chão do pátio.

Corta para Quico, Chiquinha e Chaves na escada da vila. A iluminação do cenário sugere ser noite. Os três choram muito. Em Chaves, cada personagem possui um modo característico de chorar, mas neste momento, não. Eles choram de forma comum, aos soluços. Esse plano dura aproximadamente um minuto.

Em seguida, chegam o Professor Girafales e Seu Barriga, acompanhados de 2 policiais. Eles dirigem-se à casa de Dona Florinda. O Professor bate na porta, ninguém atende. Ele chama:

-Dona Florinda, abra a porta por favor.

Não há resposta. O professor abre a porta, os policiais entram, e saem com Dona Florinda algemada. Seu rosto exibe uma imensa apatia enquanto os policiais a levam. Quico, ao ver sua mãe sendo levada, desespera-se: tenta atacar os policiais, mas é contido por Seu Barriga. Dona Florinda nem parece tomar conhecimento da situação, mantendo sempre a expressão apática e o olhar vazio. Quico, seguro por Seu Barriga, chora muito e balbucia “mamãe” algumas vezes. Depois que os policiais deixam a vila, levando Dona Florinda, Seu Barriga tenta consolar Quico, mas ele corre para casa.

Segue-se um diálogo entre Seu Barriga e Professor Girafales:

- Que tragédia horrível tivemos aqui, Senhor Barriga.

- É verdade professor. Eu devia ter previsto que isso acabaria acontecendo.

- Qual foi a causa da morte?

- Seu Madruga foi boxeador na juventude. Os socos que ele levava causaram um afundamento no crânio. O tapa que a Dona Florinda deu hoje causou um traumatismo bem nessa região. Ele teve uma hemorragia cerebral e não resistiu.

-Uma tragédia horrível, Senhor Barriga!

-Sim.

-Quem cuidará dos preparativos do funeral?

-Eu cuido de tudo Professor. Não se preocupe. O senhor vai ficar aqui com as crianças?

-Sim, naturalmente.

Seu Barriga deixa a vila. Professor Girafales entra na casa de Dona Florinda.

Chiquinha e Chaves continuam sentados na escada. Agora, pararam de chorar, apenas olham fixamente para o vazio.

Dona Clotilde sai de sua casa e vem em direção às crianças. Ela usa uma roupa diferente do que costumamos ver, uma espécie de roupão preto com vários símbolos bordados em vermelho e roxo.

Nesse momento, os depoimentos são contraditórios. Há quem afirme que Dona Clotilde traz consigo um livro semelhante à uma Bíblia. Outros dizem que a fita falha quando ela aparece, e só volta ao normal num momento mais avançado do episódio. Uma fonte descreve que Dona Clotilde vai até a escada e conversa, aos cochichos, com Chiquinha.

O que é consenso é o conteúdo que vem na seqüência. O pátio da vila está vazio, a iluminação é mais tênue do que na seqüência anterior, provavelmente sugerindo que a noite está mais avançada. Uma panorâmica pelo cenário mostra as escadas vazias, em seguida o centro do pátio, onde está desenhado um grande pentagrama vermelho; e em seguida Chiquinha sentada à porta de sua casa, abraçando os joelhos. Seus pulsos estão enfaixados, e as bandagens sujas de algo que parece ser sangue.

Então, começa a ventar no pátio. Ouvimos um estrondo, é a porta da frente se abrindo. Chiquinha, com seus olhos estão arregalados, sua boca entreaberta, uma expressão de puro horror. Ouvimos o som de algo pegajoso. Nunca é possível ver claramente o que ou quem entrou no pátio, mas planos breves, de no máximo 1 segundo, mostram uma figura magra, enrolada num pano branco, deixando atrás de si um rastro de uma substância pegajosa, aparentemente negra.

A figura aproxima-se. Chiquinha agora sorri.

A partir daí, os depoimentos novamente tornam-se contraditórios. Há quem afirme que a fita só apresentava estática depois dessa cena. Outros afirmam que não, mas não souberam dizer o que acontecia depois. Outros preferiram apenas não dizer nada.

O que é certo é que o episódio teve péssima recepção junto aos executivos da Televisa, e que Carlos Villagrán deixou o programa em seguida. Supostamente, uma cópia do episódio existe no acervo de um colecionador argentino, mas, procurado para este trabalho, ele negou veemente possuí-la, e pediu para não ter o nome divulgado.

Diz-se que Bolaños pretendia desdobrar os acontecimentos desse episódio ao longo daquela temporada do Chaves. Não se sabe exatamente o que ele tinha em mente, mas funcionários da Televisa que tiveram acesso a fragmentos do conteúdo, por meio de anotações que Bolaños fazia em seus cadernos; ou mesmo em conversas com o Chesperito, dizem tratar-se de um material absolutamente sombrio e perturbador, obviamente inadequado para um humorístico infantil.

O conteúdo desses fragmentos, porém, permanece desconhecido.

Minha intenção, caros leitores foi apenas trazer à tona esse fato e instigar a imaginação de vocês, para compreender algumas coisas que vemos e vivemos durante anos. Talvez o que mais tenha cativado gerações no seriado Chaves foi o fato de acharem esta série muito simplória, o que não é verdade.

Chaves não tinha palavrões? Sim, tinha e muitos (bruxa, velha coroca, pernas de saracura, velha briguenta, barrigudo, mestre lingüiça).

Chaves não explorava sexualidade? Explorava sim, mas de forma mais sutil, devido à época em que foi gravado. Todas as meninas mostravam suas lingeries, em seus vestidos curtíssimos.

Chaves era para crianças? Não. As cenas de booling e desrespeito aos adultos deixava claro isto.

O meu consenso é o seguinte: Chaves era e é uma série de terror.

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IMPORTANTE: Este texto foi escrito e baseado em experiências por mim vividas junto ao seriado "Chaves", o qual assisti há quase 30 anos, desde o primeiro episódio. na minha infância considerava algumas cenas chocantes, como ver Seu Madruga apanhar de várias pessoas, ser esmagado, apanhar com golpes de cadeiras, panelas, em meio aos choros desesperados de sua filha Chiquinha. Acho que o autor exagerou muito nisso. Eu ficava traumatizado! A outra parte sobre o tal "episódio que não foi ao ar" é baseado em "Pulhas Virtuais", aquelas "lendas da internet. De fato, caros leitores, é apenas uma lenda, portanto, nem eu nem ninguém tem provas que expliquem tais estórias. Espero que tenham gostado. Um abraço a todos!"

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Paulo Farias
Enviado por Paulo Farias em 07/06/2012
Reeditado em 25/07/2015
Código do texto: T3710235
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