Um corpo inchado de falas

Às vezes parece que o corpo incha, de tanto que há por dentro numa urgência para ser falado. Por isso, você vagueia nas ruas meio que inconscientemente caçando um ouvido atento, alguém simplesmente disposto a escutar.

Quando o corpo quer se explodir verbalmente, o que a gente precisa não é tanto de um amigo. Até porque essa fala nem mesmo requer compreensão. A intenção primeira é puramente liberar na voz os sentimentos presos, as agonias enterradas no peito, a saudade repetida, os pensamentos aleatórios que só debatemos com nossos botões.

Essa bomba relógio que matuta na cabeça quer um espectador novo, alguém passageiro, um desconhecido desconectado do resto do seu mundo. Uma pessoa que vai embora logo depois, carregando consigo teus segredos. E aí sim podemos redesabafar, recontar nossas histórias, renarrar os momentos marcantes que nossos amigos e amantes, os confidentes, já estão cansados de ouvir.

Para esses estranhos que te escutam, você é livre. E pode se detalhar uma vez mais, listar os elementos que compõem quem você é, suas crenças, suas manias, as teorias malucas sobre seu presente e passado, suas culpas. A um espectador novo você pode contar histórias sem censura. Não há a chance de magoar ou decepcionar quem te ouve, não há expectativas sobre sua fala. E mesmo que ele te julgue, quem se importa?