Crônica XVI - Pôr do Sol em Tanah Lot

Ana Esther

A Mochileira Tupiniquim aterrissou no aeroporto de Dempasar, em Bali na Indonésia, lá pelas 13:30h do dia 22 de dezembro de 2000. O aeroporto parecia mais uma rodoviária lotada de gente apressada. Foi uma loucura encontrar o local para o câmbio de dólares australianos pelas rúpias indonésias da época e ao mesmo tempo dispensar os serviços oferecidos por rapazes e moças para segurar as malas, oferecer informações tudo por alguns trocados. Em posse de milhares de rúpias, peguei rapidamente um táxi rumo à praia de Kuta, famosa para o povo surfista.

Rapidamente a Mochileira instalou-se na pousada Bima Sena Rendezvous e tratou logo de contratar um passeio turístico para algum lugar próximo pois ela tinha que aproveitar tudo o que fosse possível nas suas 24 horas em Bali! Na recepção, marcava seu passeio para o templo Tanah Lot falando em inglês, mas seusotaque ‘gauchesco’ não passou despercebido nem na Indonésia. Um hóspede gaúcho reconheceu o sotaque e se apresentou, era um surfista, é claro. O passeio da Mochileira Tupiniquim não era bem o que ela imaginara, um grupo de turistas numa van, nada disso, ela teria um jipe com motorista só para ela! E o motorista era também guia e também irmão do dono da pousada, tudo muito prático.

Começaram, então, a curta viagem adentrando pelo interior da ilha de Bali para o grande arrebatamento da Mochileira que podia ali testemunhar a beleza das famosas plantações de arroz asiáticas... quilômetros e quilômetros de plantações. Mulheres e homens aqui e ali no meio do arrozal com seus chapéus típicos cuneiformes, lindo! E o guia particular da Mochileira ia explicando tudo em seu inglês turístico. Uma cena que maravilhou a Mochileira foi ver os motociclistas, um montão deles por lá, abastecendo suas ‘motocas’ em tendas ao longo das estradas onde, ao lado de frutas, verduras e outros víveres, achavam-se garrafas de gasolina. Isso mesmo, a gasolina também era vendida à granel, em garrafas de vidro transparente, em vendinhas!

Tantas outras coisas incríveis a Mochileira Tupiniquim viu que quando chegou ao Templo Tanah Lot já estava fascinada pela exuberância histórico-cultural de Bali. Matah, o guia particular com rosto de pré-adolescente, estacionou o jipe e desceram. A Mochileira observou os portais de pedra esculpida com os deuses e símbolos hindus –como ela se amaldiçoou por ser tão ignorante e desconhecer toda aquela história fascinante. Ao cruzar o imponente portal, a Mochileira deu de cara, para seu total espanto, com um testemunho de uma cultura milenar, um templo hindu erguido em uma rocha nas águas esverdeadas do Oceano Índico!

Quando é maré baixa, há uma passagem conectando a beira da praia com a rocha e o caminho até o templo e a possibilidade de visitação ao belo monumento aos deuses hindus. O próprio fenômeno das marés conectando e desconectando o acesso ao templo faz parte da atmosfera mística que envolve o local. Turistas do mundo inteiro ali se reúnem para admirar o pôr do sol no Índico e a subida da maré desligando a passagem para o templo... e lá estava a Mochileira, feliz da vida curtindo tanto esplendor.

Nada melhor para aproveitar um espetáculo desses do que um suco de coco com abacate num copo todo enfeitadão (pelo menos foi o que a Mochileira compreendeu que beberia quando fizera o pedido no bar)... E depois, com um crepúsculo daqueles gravado para sempre na memória, a Mochileira e seu guia-motorista particular retornaram para a pousada na sofisticada e popular praia de Kuta. Naturalmente, a Mochileira acabou sua noite papeando em gauchês com o tal surfista conterrâneo que ela jamais encontrara antes e nem viria a encontrar depois em solo gaúcho...