DE TANTO (A)GUARDAR...

Havia nela uma essência misteriosa quase mística por assim dizer.

Dentro do que as posses permitia de tudo um pouco possuia,mas nada quase a aprazia usufruir dos pertences.

Ia guardando em um enorme baú as peças de linho,cambraia e seda que adquiria, quem sabe um dia poderia usar em uma ocasião especial.

Nas prateleiras empilhava livros, que nem sempre tinha tempo ou vontade de ler, quem sabe um dia poderia ler alguns.

Os discos se aquietavam mudos em sua inércia e aguardavam quem sabe uma ocasião para cantarolar.

As louças iam se empoeirando nas prateleiras a espera de uma refeição que,quem sabe um dia poderia servir com gala e sabor.

As taças de variadas formas,funções e tamanhos, jaziam secas a espera de quem sabe um dia, algum brinde a festejar.

A alma fixada nas paredes do intimo estava estática,empoeirada e desbotando á cada dia, mas quem sabe um dia algo a acorde para fazê -la viver...

Mas o tempo cruel passa desorientado pelos ponteiros dos relógios biológicos, temporais, espaciais e segue em disparada rumo ao futuro,que nem sempre chega.

E assim, foi... de tanto (a)guardar pelas ocasiões especiais que não percebeu existirem,que as louças ,os tecidos,os discos e livros e a vida perderam as cores, viços e formas.

De tanto (a)guardar, se (res)guardou de dores e amores e um dia sem nada usar e sem encontrar ocasião especial, partiu em viagem de volta ao começo, finda a vida ficou a lição: de tanto (a)guardar,tudo perdeu.

Márcia Barcelos.

09 de junho de 2012.

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Márcia Barcelos
Enviado por Márcia Barcelos em 09/06/2012
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