Lelecos e Muricys

Sempre fui fascinado pela teledramaturgia brasileira (desde criança). Falando nisso, não tem como não gostar e se pegar vidrado nas cenas de AVENIDA BRASIL, seja pelas lágrimas dignas de Oscar da Adriane Esteves, ou seja, pelas fortes cenas que mostram a determinação de um jovem em descobrir seu passado, vivido pelo Cauã Reymond (diga-se de passagem: que determinação).

Mas não vou falar dessas duas histórias, e sim sobre os hilários Leleco e Muricy, vividos pelo Marcos Caruso e pela elegante Eliane Giardini. Um ex-casal que vive se alfinetando, procurando motivos para se estapearem com o único e exclusivo objetivo: declararem para todos ao redor que já não se amam mais.

O Leleco é um boêmio e amável senhor com seus lá cinquenta e poucos anos, que foi encantado por uma Miss Chapinha. Capaz de se fazer feliz, para Leleco não tem tempo ruim. É uma daquelas pessoas que pensamos ser sempre. Envelhecer com jovialidade e sorrisos nos lábios, sabe? É com esse jeito de garotão que o Leleco vive a vida, o resultado disso é seu olhar de alegria para os caminhos trilhados (seja qual forem). Morre de ciúmes de seu novo amor, na verdade não é bem ciúmes é visão masculina. Afinal o Leleco parece com muitos amigos meus. Acham que toda mulher que abre os dentes demais é devassa, vulgar... Uma biscate. É daquele tipo que pra ele mulher não usa mini saia, não dança na frente de outros homens, não tem amigos homens, não fazem nada de bom enquanto ele não esteja por perto. Puro machismo atuante em pleno 2012, mas fazer o que?! Garanto que tem um desse ai perto de você.

Sua ex-mulher segue a mesma linha de alegria, porém com mais elegância, feminilidade, inteligência. Desbocada e sem papas na língua (como diria minha avó), Muricy é uma verdadeira cinquentona (que as cinquentonas não me vejam mal). Cuidou de seus dois filhos com amor, com a delicadeza de uma rainha. Da forma mais fina que se deve cuidar. Sempre teve uma relação perfeita em seu casamento (mesmo com briguinhas e alguns desentendimentos conjugais), nunca traiu seu marido, tampouco pensou em traí-lo (quer dizer, pensamentos eu não sei, afinal não estava na cabeça dela). Porém ao ver-se divorciada, trocada por uma com metade de sua idade, resolveu fazer o que sempre fez de melhor: viver!

Resolveu dar chance ao romantismo que sempre lhe bateu à porta, trazido por um homem com a metade da idade do seu ex e nem com a metade da metade da inteligência também.

Pergunto-me muito e ouço muitas outras pessoas se perguntarem: por que casamentos terminam, se foram ditos que eram pra durar para sempre?

Sinceramente não tenho a palavra ou o discernimento certo, mas creio que antes os casamentos eram prescritos como se fossem receitas médicas. Já se sabia com quem você iria casar e se não desse certo as aparências deveriam mostrar o contrário a sociedade. Sem falar que os ideais revolucionistas dos jovens e sua busca inconstante pelo NOVO não atingia diretamente os lares nem as famílias como atingem hoje em dia.

Não havia desunião entre eles capaz de ser motivo da separação, mas havia a falta da busca pelo novo. Foi preciso ‘trocarem-se’ por dois jovens para perceberem que estão na flor da idade ainda. Descobriram que o aprendizado é infinito e longevo. Garanto que existem vários Lelecos e Muricys neste mundão de Deus

Leleco e Muricy ou Muricy e Leleco (seja lá qual preferência você queira dar), têm juntos mais coisas em comum do que imaginam. Suas brigas e discussões constantes são as provas de que dois bicudos não se beijam, podem até tentar, mas vá procurar saber pra ter noção. Se existe alguma possibilidade dessas duas figuras coadjuvantes ficarem juntos no final não importa, eles nunca se deixaram mesmo.