Será que compreendemos? (BVIW)

Não sei se outros também sofrem disso, mas eu ando ouvindo um zumbido chato na internet, o que tem me tirado o prazer de navegar. Já mandei checar os ouvidos e o médico garantiu-me que com a função básica está tudo okay: sigo ouvindo o que quero e o que não, sem reclamar. A síndrome chama-se febre de compartilhamento e constante atualização. E ainda que eu não sofra desse mal, fui afetada pela radiação, daí o ruído me incomodar tanto. É que hoje em dia todo mundo ‘partilha’, todo mundo tem algo a dizer ou mostrar, e tudo ao mesmo tempo, sem pensar nem parar pra ouvir o que o outro quis dizer. Quem aprecia canto coral sabe que cantar sem ouvir o outro acaba com a peça e que pausas na música existem para se fazer, ou seja: o silêncio tem função. E é impossível ouvir tudo ao mesmo tempo, é preciso concentração. Em dias de tanto compartilhamento, pouquíssimos são, nesse meio, os que ainda têm algo para dar. Explico: no complexo de coisas que chamam ‘alma’ humana, domina a idéia de essência, o que cada um tem escondido dentro de si e por vezes até de si mesmo; mas se compartilhamos tudo a todo tempo nada resta pra esconder ou deixar o outro descobrir; banalização do que temos de mais caro, nosso EU e o tempo necessário para que ele surja. Compreender algo não é puro acúmulo de conhecimentos, é um estado interior; uma nova ligação, um clique que se fez. Imagine all the people sharing all the world, cantou John Lennon. Por um tempo, uma desconexão? Imagine!!!

Crônica originalmente publicada no BVIW:(letrasdobviw.blogspot.de/2012/06/sera-que-compreendemos-by-helena.html)