Procurando emprego

Ouvi falar que só vence na guerra da busca por emprego aqueles que sabem mentir melhor. A equipe de recursos humanos, ou seja lá quem tem o poder de contratação, nem quer sinceridade demais, muito menos se alimenta da ilusão de que os candidatos serão dos mais honestos.

Na minha pesquisa sobre dicas para escrever um bom currículo, a impressão que ficou é que tudo virou uma arte de transformar suas experiências profissionais anteriores de sapo a príncipe. É preciso usar jogos de palavras que permitiriam uma pessoa sem casa, por exemplo, se descrever com sucesso como “indivíduo de espírito livre, nômade” ao invés de se intitular como mendigo.

Acontece que, na hora de conhecer os candidatos, os empregadores querem mesmo é se impressionar com alguém verdadeiramente genial ou com um mero mortal capaz de se vender como semideus. Sai na frente quem mente o suficiente para não mostrar fraquezas, sabe elevar suas habilidades ao cubo e ainda consegue convencer os outros de que seu maior defeito é, na verdade, uma qualidade. Tudo isso sem ceder a clichês ou soar falso.

Então, ir a uma entrevista de emprego bem preparado é o que? Ser robô? Calcular pela expressão de seu avaliador quais são as expectativas dele e falar apenas o que ele parece querer ouvir? E ele, sabendo disso, dá continuidade a esse jogo de manipulações por quê? Porque somente os mais fortes conseguirão manter suas mentiras e meias-verdades até o fim enquanto os fracos cederão?

Meu problema nesse processo todo é uma espécie de respeito à empresa que está me questionando. Por isso, quando me perguntam se meu objetivo é realmente criar uma carreira naquele setor, se de fato me identifico com o projeto descrito, se tenho todas as qualificações que eles listaram, os fortes dizem um “sim” categórico enquanto meu cérebro entra num debate fervoroso que certamente se traduz no meu rosto. “Quero mesmo esse trabalho?”, eu me interrogo. E no caso de a resposta ser não, eu logo perco a energia, a disposição de me maquiar como algo melhor do que sou.

É uma fraqueza estúpida porque as companhias, os empregadores, não estão no mundo para se compadecer da minha sinceridade, nem para ter uma legítima consideração por mim. Mas eu ainda penso que é injusto prometer que tenho sede de uma carreira que, na verdade, não me apetece. Nem gosto de garantir que vou vestir a camisa de um projeto quando eu não me identifico com aquilo. Sinto peso na consciência em achar que meu teatro pode fazer uma empresa contratar gato por lebre, ainda que meu fingimento pudesse me garantir um emprego que pagasse melhor ou me trouxesse outros muitos benefícios.

Isso faz de mim uma pessoa tão ingênua no mercado de trabalho que é irritante. Mas gosto de pensar que só estaria perdendo meu tempo em aceitar uma oportunidade que não me atrai. Gosto de ter uma fé na vida de que, se essa entrevista falhou, é porque mais na frente terei uma outra equipe de RH diante de mim, me descrevendo um emprego que eu acho incrível, e aí assim mostrarei o meu máximo durante o interrogatório, e isso sem dúvida vai convencer os outros de que me contratar é a única opção viável no mundo.