NOTÍCIAS DE UMA GUERRA CIVIL: A SITUAÇÃO DOS HOMICÍDIOS NO BRASIL

Por Herick Limoni*

A voz corrente hoje no Brasil é de que a violência tem aumentado assustadoramente, ainda que muitos governadores insistam em afirmar que, em seus respectivos Estados, a situação é diferente. O mapa da violência 2012, elaborado pelo Instituto Sangari e divulgado nesta semana reforça a ideia de que, com raras exceções, a violência tem, sim, aumentado em grande parte do território nacional, caracterizada principalmente pela explosão dos homicídios. Não vamos aqui discorrer sobre qual é a principal causa (tráfico de drogas) e quais são as principais vítimas (jovens entre 14 e 24 anos, pobres e negros), mas demonstrar, através dos dados divulgados, que vivemos uma situação de guerra civil.

Segundo a pesquisa, a situação mais preocupante é a da região nordeste do país, notadamente a região mais pobre e menos favorecida, cujos políticos, contaminados pela doença da corrupção que também assola esse país, encontram terreno fértil para colocar em prática seus desejos pessoais em detrimento das necessidades coletivas. Denúncias e escândalos nunca faltaram, como no recente caso do afastamento do presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas por suspeita de fraude em licitações, enquanto a capital daquele estado, Maceió, aparece em 1º lugar dentre todas as capitais, com uma taxa de 103,8 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes. Também não podemos nos esquecer da perpetuação do clã dos Magalhães, na Bahia, e dos Sarney, no Maranhão, verdadeiros coronéis nordestinos. Nada mais brasileiro. Dos quinze municípios que apresentaram a impressionante taxa de mais de 100 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes (a ONU considera aceitável uma taxa de 10), nove deles estão na região nordeste. Desses quinze, 1/3 deles faz parte da área de atuação do clã dos Magalhães, ou seja, a Bahia, que, inclusive, está na primeira colocação com o município de Simões Filho, com uma taxa de 146,4 homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes. Ao tentar explicar o inexplicável, a secretaria de segurança daquele estado divulgou uma nota em que afirma que tal município tem sido invariavelmente utilizado como local de desova por criminosos de outras localidades, e por esse motivo o município apresentou tal taxa. Menos mal que não tentaram desacreditar o estudo, dizendo que ao contrário do constatado, os índices tem decrescido. Mas cá entre nós: vivemos ou não uma guerra civil?

Enquanto isso, estão sendo investidos entre R$ 500 milhões e R$ 1,6 bilhão (não há consenso entre estimativas do governo federal e do TCU) para a reconstrução do estádio da Fonte Nova, que será palco de jogos da famigerada copa do mundo de 2014. Tenho certeza de que, com todo esse dinheiro, fosse ele bem empregado, muita coisa poderia ser feita para se reverter o vergonhoso quadro atual daquele belíssimo estado nordestino, como o aparelhamento das forças públicas de segurança, recuperação de espaços públicos degradados e investimentos na área da educação que, a meu ver, é o caminho mais curto e com maior possibilidade de bons resultados a médio prazo. Enquanto nossos jovens estão se digladiando por pontos de venda de drogas, enquanto os bandidos estão tomando conta das nossas cidades, as pessoas de bem, e que têm condições financeiras para isso, estão se refugiando em suas “fortalezas particulares”, outrora chamadas casas, lares ou residências. Algo, definitivamente, precisa ser feito.

Mas quem liga pra isso se somos o país do futebol e do carnaval? Como diziam os romanos, ao povo “pão e circo”. No nosso caso, como se tratam de dois espetáculos que têm o escopo de, assim como na Roma antiga, distrair a plebe, a frase ficaria melhor se fosse: ao povo, circo e circo. Neste caso, não preciso dizer quem são os palhaços!

Se os estádios ficarão prontos até 2014, se os responsáveis por obras superfaturadas serão responsabilizados, se a seleção brasileira sagrar-se-á hexacampeã, disso eu não sei. O que sei é que quando o assunto é violência e corrupção, o Brasil ganha de goleada.

*Bacharel e Mestre em Administração de Empresas