Liberdade e Asas da Imaginação

Liberdade e Asas da Imaginação – Viagem no tempo I - Recordações

Hoje, depois de visitar o Ortopedista, e de saber que deveria "ficar de molho" por um tempo maior que o esperado, regressei para casa um tanto quanto chateado.

Não era para menos, tenho uma porção de coisas a fazer na empresa. Estou envolvido em um tema de grande importância nacional, qual seja, construção de hidrelétricas.

Mas, que fazer, a saúde em primeiro plano depois o resto, afinal, já foi muita dedicação! Longos 40 anos de labuta! Mas Rios e Hidrelétricas já fazem parte de minha vida desde quando nasci. Vocês perceberão a seguir, então, Projeto Rio Madeira pode esperar um pouquinho mais...

Em busca do que fazer, para ocupar o tempo, detesto ficar ocioso, vira e mexe, encontro-me novamente com meu Note-Book na mão, pesquisando, relendo coisas, relembrando o passado. Foi aí que li de novo algo do Casimiro de Abreu. "Meus oito Anos" sempre me foi familiar. Decerto porque Casimiro era mesmo simples no seu escrever. Foi embora muito jovem e deixou aos romancistas sua rica contribuição, para regozijo da nossa literatura.

Em seguida, já desviando meus pensamentos, liguei o Google Earth. Que maravilha de Software! Imagens de satélite de todos os pontos do globo terrestre. Viva a tecnologia.

A gente busca lugares onde já viveu. Localiza pontos geográficos em segundos.

Aí, talvez influenciado pelo Casemiro, fui rever o meu Rio Paranapanema de meus tempos de menino.

Localizei minha cidade natal, Pirajú, Estado de São Paulo. Vi a represa de Jurumirim, e o sítio de minha tia, na altura do km 315 da Rodovia Raposo Tavares. Aí busquei a represa de Piraju, os bairros que um dia andei, as ruas onde brinquei. Vi a SAP -Sociedade Atlética Paranapanema, hoje Iate Club Piraju. Sobrevoei num relance todo o meandro divagante da calha do meu rio. Fui á Baía do Judas, onde quando menino tinha como o lugar de maior predileção para nadar. Esse lugar foi formado quando do enchimento do lago da Hidrelétrica, cerca de 1.932, meu tio, italiano, ajudou a construí-la. Então formou uma pequena baía de areias muito macias. Que lugar encantador que era! Andava bastante para chegar até lá. Lugar que me fascinava. Ali construía jangadas de bananeiras, me imaginei um corsário, brincava de pirata e de lutas... Tinha uma ilha em cujos galhos secos de uma árvore, sempre se viam muitas andorinhas. Às vezes, enroscavam os aguapés com suas flores lilases quase brancas. Acompanhava fascinado o vôo rasante das andorinhas resvalando-se n’água e o mergulho certeiro do Martim Pescador. Do outro lado muitas pedras, daquelas do tipo sedimentada, que são lascadas e formavam sempre um apoio para um bom mergulho. Não me lembro de cansar, mas depois descia rio abaixo até outros pontos de minhas estripulias. No Pedrão nadava nu, atravessava o Rio até a Pedrinha, voltava, soltava o corpo ao sabor da correnteza, às vezes uma tronco servia de flutuador e saía mais abaixo, antes da queda d'água e do vertedouro...

Quanta liberdade! Assim passava o dia até o entardecer. Mal chegava da escola, almoçava apressado e saía, tinha urgente compromisso com a natureza. Meu quintal era ilimitado, minha mãe aflita sempre ralhava, mas sabia no seu âmago, que havia me dado o mundo, eu estava só fruindo.

Nos meus momentos de devaneios, esquecia-me de tudo, de todos e do tempo...

Valeu Casimiro!!! Obrigado!!! ... Deixe-me agora descansar mais um pouco!

Libertas et natale solum. [Divisa / Stevenson 1390]. Liberdade e minha terra natal.

Libertas fulvo pretiosior auro. [DAPR 402]. A liberdade vale mais do que o fulvo ouro. <Arrenego de grilhões, ainda que sejam de ouro.

PS

Para quem não conhece, aí vai a poesia de maior destaque, publicada no único livro do poeta, “As Primaveras” de 1.859... mas parecia feita para mim...

Meus oito anos

Oh ! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras,

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais!

Como são belos os dias

Do despontar da existência!

- Respira a alma inocência

Como perfumes a flor;

O mar é - lago sereno,

O céu - um manto azulado,

O mundo - um sonho dourado,

A vida - um hino d'amor!

Que auroras, que sol, que vida,

Que noites de melodia

Naquela doce alegria,

Naquele ingênuo folgar!

O céu bordado d'estrelas,

A terra de aromas cheia,

As ondas beijando a areia

E a lua beijando o mar!

Oh ! dias da minha infância!

Oh ! meu céu de primavera!

Que doce a vida não era

Nessa risonha manhã!

Em vez das mágoas de agora,

Eu tinha nessas delícias

De minha mãe as carícias

E beijos de minha irmã!

Livre filho das montanhas,

Eu ia bem satisfeito,

Da camisa aberta o peito,

- Pés descalços, braços nus -

Correndo pelas campinas

À roda das cachoeiras,

Atrás das asas ligeiras

Das borboletas azuis!

Naqueles tempos ditosos

Ia colher as pitangas,

Trepava a tirar as mangas,

Brincava à beira do mar;

Rezava às Ave-Marias,

Achava o céu sempre lindo,

Adormecia sorrindo

E despertava a cantar!

.........................................................................................

Oh ! Que saudades que tenho

Da aurora da minha vida,

Da minha infância querida

Que os anos não trazem mais!

Que amor, que sonhos, que flores,

Naquelas tardes fagueiras,

À sombra das bananeiras,

Debaixo dos laranjais! .

São Paulo, 09/02/2006.

MARCO ANTONIO PEREIRA
Enviado por MARCO ANTONIO PEREIRA em 09/02/2007
Código do texto: T375360
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