A pensão da vovó Antônia!

A vovó ficou viúva muito nova, se bem que na década de quarenta a estimativa de vida era bem menor, a medicina não era tão avançada como hoje, os recursos para um bom tratamento de saúde eram pequenos, principalmente em cidades do interior e o Estado de Goiás não ficava fora destas estatísticas. Bem vamos ao que interessa!

Como disse a vovó Antônia viúva, como tantas outras da época não recebiam pensão, embora o vovô Jonas Pedroso de Moraes trabalhasse empregado. Ela foi á luta e tocava uma pensão em frente à estação de trem, Estrada de Ferro Goiás, me lembro bem, não sei exatamente quantos anos eu tinha, mas era uma casa grande comprida, naturalmente cheia de quartos de um lado e do outro de um corredor, no final era a cozinha com fogão de lenha, perto da janela que dava para a rua. Era como toda cozinha, cheia de panelas, pratos, copos e talheres, mas tudo em grande escala e tamanhos acima do normal de uma casa de família. Ali ficava a vovó e as ajudantes quase o dia todo preparando cada quitute de dar água na boca.

A pensão era um pouco longe de nossa casa que ficava no centro da cidade de Ipameri, Goiás, mas meus irmãos Renato, Ronaldo e eu achávamos bem pertinho tal o prazer que sentíamos em estar com ela. Os primos, filhos da Tia Nenzinha, que também moravam em Ipameri e eram muito chegados a nós, iam também nos encontrar no paraíso, que hoje parece tão perto do nosso coração. É bem verdade que eu sempre dei valor nas minhas lembranças da infância, mas agora depois da partida da mamãe, que está com Cristo, juntamente com meu pai, avós, tios e tias, a saudade é bem maior, as lembranças doem muito, mas é uma dor cheia de alegria por ter tido o privilégio de ter os pais que tivemos avós e demais parentes queridos, saudosos, mas, como dizia meu pai “de saudosa memória”.

Não citei meu querido irmão Persinho ( Pérsio Junior ) porque ele é raspa do tacho e nasceu em Goiânia, mas esta é outra linda história.

Nossos primos Samuel, Rachel, Paulo, Júnia e Mirian eram nossos melhores amigos e essa amizade perdura até hoje graças a Deus. A Júnia e eu éramos muito ligadas, brincamos de boneca até mais de 15 anos de idade, um recorde, mas era maravilhoso, ficávamos no quintal da vovó brincando de casinha, costurando roupinhas de boneca e mostrando para as pessoas que passavam na avenida indo para a Estação da estrada de ferro Goiás ver o trem chegar. O quintal ficava mais baixo que a rua, por isso era fácil ficar interpelando os passantes: “qual boneca é a mais bonita?” de vez em quando um rapazinho afoito dizia: a mais bonita são vocês. Pra quê, a gente ficava se achando como se diz hoje, era tudo tão sem maldade, tão bom, ah! chega de saudade...

A pensão tinha um grande refeitório logo na entrada, repleto de mesas quadradas, com toalhas listradas de vermelho. Ficava sempre lotado, mas a mesa perto da janela dos fundos era para os netos, por falar em janela, era cada janelão... O cardápio nem preciso dizer era de primeira, almondegas, carne assada, lombo recheado, bucho recheado, fígado, miúdos de frango, rabada, bife e a famosa língua, acho que é por isso que comemos de tudo e achando bom!

Voltando ao relato da pensão, a porta da cozinha dava para o quintal, tinha uns degraus para descer, pois o terreno era irregular. Em baixo ficava os tanques de lavar roupas e o tanque de lavar vasilhas, o sabão era de bola, feito em casa e tinha areia para arear as panelas, a vovó e a maioria das donas de casa da época, gostavam das panelas e demais utensílios de alumínio bem brilhantes e as panelas de ferro então, famosas até hoje, faziam a festa. Aliás, minha nora Lilian adora cozinhar em panelas de ferro.

A pensão ficava num terreno bem grande, era uma chácara dentro da cidade, mais parecia um pomar, tinha frutas e verduras e principalmente mangueiras de várias qualidades. Nós brincávamos o dia todo, sumindo por entre as árvores, as brincadeiras eram variadas, desde casinha de bonecas até pic de esconde. Os meninos gostavam de jogar bola, o Renato tinha mais jeito no futebol. Já o Rone era um verdadeiro perna de pau, tinha as canelas compridas e ficava todo arredio com medo de se machucar. Diga-se de passagem, até hoje ele não é muito chegado a esse esporte, nem torce por nenhum time com muito empenho. Já o Renato sempre gostou do Vasco, amor que perdura até hoje, mas aqui no nosso estado de Goiás é Vila Nova “roxo”.

Vou ficar por aqui, breve voltarei a esse assunto que com certeza dará muitas alegrias e boas lembrança a todos que lerem, creio que muitos tiveram a mesma experiência em suas vidas.

Goiânia, 14 de abril de 2011. Sônia

Legenda e referência pessoais:

Antônia Pedroso de Moraes – minha avó materna, dona da Pensão, herdada do meu avô, Jonas Pedroso de Moraes;

Alice Pedroso de Moraes Jordão- Tia Nenzinha, irmã de meu pai;

Lilian Camargo Lima Pedroso de Moraes – esposa do David Pedroso de Moraes;

Renato e Ronaldo Pedroso de Moraes, meus irmãos;

Samuel, Júnia, Rachel, Mirian e Paulo, nossos primos, filhos da tia Nenzinha;

Vasco- Time de Futebol;

Vila Nova – time de futebol;

Deixo um versículo da Bíblia Sagrada, para meditação:

“O SENHOR é o meu Pastor e nada me faltará” Salmos 23, versículo 1;

Sônia Pedroso
Enviado por Sônia Pedroso em 02/07/2012
Código do texto: T3756110
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