Origem dos sonhos

Posso concluir que após uma longa verificação toda síntese parece óbvia. Feche os olhos. Recue no tempo remoto onde a figura humana surge em busca de imprecisa alimentação. O universo consciente tem como base a vida diurna e o inconsciente a fase noturna ou consciência alterada. Considere neste passado remoto uma dieta misteriosa composta de duas fontes básicas de ansiedade: vida e morte. Nômade o homem vagava em busca de alimentação e quando encontrava uma desconhecida fruta de rara beleza temos nisto apenas uma indagação lógica: poderá ser ingerida?

Imagine então o homem faminto diante do grande dilema. Como num passe de mágica… Tem a mão uma planta carregada de frutas, mas desconhece o efeito químico dessa alimentação. O medo e a fome reúnem-se. Podes imaginar o resultado? Toda substância desconhecida ingerida produz o efeito de uma droga. As drogas hoje em voga são substâncias que estão fora do cardápio convencional. Produz um retorno a ansiedade primitiva. É a quantidade disponível que regula o comportamento seguido de cultura anterior determinada.

Dormir após as refeições são meios para aplacar o medo primitivo de um engano alimentar remoto. Segue-se o medo contínuo da morte por envenenamento. Temos a soma química de elementos em nosso próprio organismo. Hoje está em voga a ideia do controle químico da sociedade num surto político de drogadição. Todo drogado experimenta uma ansiedade como do homem nômade que não sabia qual efeito da ingestão, todavia sucumbe ao desejo, faminto. Nesse período uma simples maçã teria legado ao homem o efeito surpreendente.

Moldamos nossa experiência cerebral através da experimentação vital alimentar. Com o sedentarismo diminuiu o risco nunca a coleção química de efeitos pelo qual consolidamos nossa dieta. Os sonhos noturnos, na verdade, o composto desse resultado experimental alimentar diante do risco da morte por ingestão. Nos sonhos temos a desordem mental das substâncias que carregam a experiência e a tentativa de lembrança. Fenômeno que se intensifica até a representação final da morte, último estágio do sono, para ressurgir como numa espécie de ressurreição. Esta subconsciência se divide em fome, medo e desconhecida saciedade. Mesmo hoje em toda alimentação há o conteúdo do risco.

Sobre o risco pode imaginar como ocorreu, por exemplo, a disseminação da síntese do açúcar a partir da cana no século XII. A imensa drogadicção pelo açúcar que tomou conta da Europa. A horrenda hiperglicemia e o prazer da doçura. O açúcar tomou o lugar do mel como as drogas se mesclam ao mundo do alcoolismo, pois, nenhum metabolismo conhece independência química.

Hoje a luta contra as drogas não passam de embate do poder para manifestar a tradição moral de consumo alimentar. O poder emprega os distúrbios da ordem pública sobre a força que empreende para inibir o consumo. Investe na guerra não na educação respeitosa das diferenças de hábitos e culturas in Inexiste alimentação sedentária por si só. Somos nômades pelo modo como precisamos trocar incansavelmente de substância. Na repetição constante do mesmo alimento também há um tipo de fome. A indústria química domina o homem moderno. Produz todo o tipo de conteúdo químico para controlar o indivíduo de suas mazelas. É atroz quando o controle da dor se limita ao êxito financeiro. Inacreditável que o poder tenha colocado o fenômeno da ingestão das drogas no terreno político das considerações. Fruto da economia artificial. As drogas repetem a origem dos sonhos pela experimentação não idealizada cercando-se da cultura de seus efeitos. Podem ser incertas, fatais no excesso, indevidas nas ocasiões. Ruins como à obesidade ou ainda disfarçadas como a química supermercadista dos alimentos.

Sonhos representam a desordem da ingestão química.

Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 02/07/2012
Reeditado em 22/06/2020
Código do texto: T3756114
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