Quando o inverno acabar.


Quando o inverno acabar, se eu não acabar antes, terei 63 anos de idade. Essa visão do futuro me veio hoje pela manhã ao sentir nas pernas aquele vento que detesto, um vento comum no outono, vento morno de velocidade moderada e constante, vento de bruxas. Enquanto eu dizia palavras feias para o vento que passava sem me dar atenção, eu pensava em outros invernos passados, passados como o vento que passava por mim, mas o vento volta, o passado só volta em pequenas e confusas lembranças. Para nossa alegria felicidade ou extrema tristeza temos a capacidade de lembrar do passado, outros animais não podem fazer isso.

Pode parecer ridículo para quem “ouvir” o que vou escrever agora, eu só me dei conta de que nascera no inverno quando já era adulto, eu sempre me vi nascido na primavera, primavera de setembro em 1949, mas eu nasci no dia 8 de setembro, era inverno e eu detesto frio, odeio frio mas gosto de chocolate quente. Caneca das grandes, cadeira confortável de frente para janela e o pensamento vagando por outras estações e por todas as nossas intenções. Considere intenções sinônimo de planos, de sonhos. Todos os planos que cada um de nós fez nos invernos de nossa juventude.

O inverno se presta a planejar, a sonhar, a pensar, meditar, e o mais perigoso de tudo, lembrar. Lembrar que invernos passaram, lembrar dos planos e sonhos dos invernos idos, constatar que tão pouco se tornou realidade. Mas ainda que assim seja, aqui estou eu ainda planejando, sonhando com minha vida no inverno em que farei 64 anos, 66, 70. Nos mesmos invernos em que ela fará aniversários ao meu lado. Que venham os invernos com seu frio. Aqui no Rio de Janeiro ele ainda não apareceu, está quente hoje.









 
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 07/07/2012
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