Reflexões sobre velório

Se existe uma coisa patética nesse mundo é ir a um velório. É sempre a mesma coisa, ou seja, aquela velha cena se repete em que todos fazem questão de ir à beira do caixão olhar para o defunto. E o pior é que geralmente diante de tanto choro e lamentações dos familiares você não sabe se fala se cumprimenta, se dar um abraço ou se chora. Nessas horas o nosso grande medo é de cometer uma terrível gafe. Certa vez um cidadão se afogou nas águas do rio Jaguaribe e depois de dois dias encontraram o corpo. Logo trouxeram para casa e o colocaram numa rede armada na sala. Como sempre as pessoas vinham e olhavam o defunto e saíam. Em um dado momento todos saíram da sala e ficou apenas um garoto de seis anos. E como fazia pouco tempo que tinham resgatado o defunto do rio o mesmo ainda estava mole, e nisso o garoto se pôs a olhar para ele quando de repente uma das pernas escorregou e saiu da rede, nesse momento o garoto partiu em disparada, e esse, eu acredito que nunca mais quis visitar um velório.

Carlos Junqueiro (LETRAS-PORTUGUÊS-UFC)