A bomba que explodia amor

Houve uma época em que trabalhei entregando jornais na minha cidade. Nos domingos sempre ganhava um exemplar da folha de São Paulo que trazia vários encartes e suplementos, em especial pra mim o suplemento agrícola, que sempre usei nos trabalhos de geografia do professor Maurinho, nos tempos do Calderaro.

Trazia também um exemplar da “Folhinha de São Paulo” destinado a leitores infantis, ou a quem gostasse de leituras deste gênero. Eram as histórias da “Tia Lenita” publicadas na página 03 naquele dia 27 de Dezembro de 1.970, talvez o leitor do recanto também goste.

Era época de guerra fria, de Alemanha dividida, De revolução cultural na China de Mao, de guerra no Vietnã, do nosso repórter rural hoje e na época correspondente de guerra tendo sua desgraça e fatalidade exposta na capa da revista, a nos mostrar os horrores da época, como a aflitiva imagem dos efeitos de Napalm naquela menina .

Hamilton Ribeiro que foi vítima de uma mina que explodiu sob seus pés nos horrores plantados nos campos vietnamitas, e que, por Deus, ainda está nos deliciando com suas reportagens pelos rincões brasileiros.

No Brasil, nuvens negras nos cobriam, terrorismo patente lutando contra um regime que já se vai ao longe, livro negro da nossa história.

E o apelo infantil contra a guerra:

Era uma vez, um cientista

Que ao ver o mundo sofrendo

Com tanta bomba caindo

E muita criança morrendo

Chamou seus filhos e disse

Vamos juntos inventar

Uma fórmula que ensine

À toda gente se amar

Com gotinhas de luar,

Uma estrelinha de cor

Façamos uma bomba tão linda

Que ao explodir vire amor

Dos quatro cantos do mundo

Veio logo muita gente

Encomendar a tal bomba

Veio até o presidente

O velhinho não vencia

Tanta encomenda chegando

Quem ali entrasse via

Os seus filhos ajudando

E a noticia se espalhou

Depressa e com tal furor

Que o mundo inteiro comprou

A bomba que fazia amor

De repente veio a guerra

Que dor, que infelicidade

Com tanta bomba explodindo

Ia acabar a humanidade

Até homens do governo

Ficaram apavorados

Nessa guerra para matar

Já não precisam soldados

É só apertar um botão

Que a bomba vai sozinha

Fazer mal e destruir

Cada cidade, inteirinha

E a humanidade rezou

Ajoelhada, chorando

Pelos homens insensatos

Que sem pensar vão matando

Mas quando a guerra chegou

Com o estrondo que deu

O mundo não explodiu

Um milagre aconteceu

Em vez de bombas que matam

Que estraçalham e trazem dor

O mundo ficou bonzinho,

Ficou cheio de amor

Os homens que nos governam

Não são tão tolos assim

Se uma bomba explodisse

Uma acolá outra aqui

Quem sobraria pra contar

A história de um pobre mundo

Que de maldade e burrice

Bem depressa foi ao fundo?

Oh! Homens eis a lição

Aprendam-na sem demora

É a hora da salvação

Do mundo inteirinho agora

Em vez de pensar somente

No cogumelo do horror

Façamos aquela bomba

Que explode e vira amor...

Paulo de Tarso
Enviado por Paulo de Tarso em 11/02/2007
Reeditado em 19/03/2007
Código do texto: T377586
Classificação de conteúdo: seguro