Amigos

Quem são os amigos afinal? Esses sempre presentes ou aqueles quase já esquecidos pelo tempo? São os de hoje ou os de tempo atrás? São aqueles que nos compreende ou aquele que mal sabem como estamos? São aqueles que nosso ego diz que sejam ou aqueles que são de fato? São as imagens que criei deles ou é a realidade que eles criam em mim? Quem são meus amigos afinal?

Às vezes a solidão se manifesta em uma lista telefônica, e percebo o quão tão vago é a vida e suas conveniências mais absurdas. As palavras são ditas assim: sem pensar. Mas cada palavra tem um peso, cada peso uma medida, e cada medida uma sentença. Mas quem liga para isso se as ações do hoje manifestam alegria, mesmo que eu não saiba o amanhã e que as palavras sejam outras. Hoje eu te amo, amanhã eu te odeio, hoje eu te quero paz, amanhã vingança, hoje te quero bem, amanhã o mau, hoje és tudo, amanhã não és nada, hoje as palavras servem, amanhã eu as mudo por qualquer outras que exalem meu despudor, minha raiva de mim mesmo, de acreditar em tudo que acreditava e queria que fosse certo.

Oh meus amigos, quantas vezes sorri ao lado de vocês como uma criança que brinca na praia com a areia branca sem me preocupar com o amanhã. Quantas vezes chorei com vocês e senti ao fundo a tristeza que abatia seus corações. Quantas vezes me alegrei com os acertos que conseguiam, e sentia como se fossem meus. Quantas vezes tentei compreender os motivos de seus erros mais grotescos, e tentar imaginar como esse alguém que conheço a tanto tempo ainda é um mistério para mim. Quantas vezes mesmo no erro estive presente ao lado de vocês para dar força, e dizer que as pessoas erram, mas o amor de um amigo não se acabará por isso, pelo contrário, ele é a fortaleza para reconstruir de modo correto o que parecia insolúvel e sem respostas. Quantas vezes meus amigos, até eu fui mal entendido por vós, sendo rejeitado, criticado e por vezes humilhado, por alguém que eu amo, mas simplesmente pensa diferente de mim e não aceita meus pensamentos. Quantas vezes perdoei para dar o exemplo de como o amor supera as piores coisas e fortalece a alma. Quantas vezes compreendi, mas nunca fui compreendido, quantas vezes chorei por vós, mas nenhuma lágrima caiu do rosto de vocês, quantas vezes me sacrifiquei e por vezes até mudei meu modo de vida por vocês, enquanto isso tinha eu que implorar um pouco da atenção de vocês, mesmo que fosse por alguns míseros minutos. Quantas vezes eu amei sem cobrar nada, nem mesmo amor, pois o amor é algo meu, que existe dentro de mim, e não seria justo cobrar por isso, pois ninguém tem culpa do meu amor, como eu não tenho culpa por senti-lo, e amor não se cobra, sente, apenas se ama.

Quem são meus amigos? Talvez uma pergunta tão simples não tenha uma resposta tão simples assim, pois como podemos compreender o que os outros sentem por nós? Pelas ações? Diria que seria pobre pensar assim, pois se isso fosse verdade, talvez nem mesmo família teríamos, pois quando os fatos não condizem com os sentimentos iríamos rejeitar nossa família? Creio que não. É preciso algo mais que as ações para compreender os sentimentos, e sem dúvida é preciso muito mais que o nosso simples olhar para julgarmos os outros por aquilo que queríamos, que julgamos certo, por uma imagem dos outros que criamos sem o seu consentimento, por todas as vezes que mudamos o nome das palavras de amor para ódio e esquecemos os gestos de ternura, as coisas boas, a felicidade, os momentos inesquecíveis, e jogamos tudo no lixo junto com a nossa dignidade e pretenção. Talvez eu não saiba ao certo quem são meus amigos, mas sem dúvida estarão comigo quando precisar, darão apoio quando errar, aplaudiram meus acertos, chorarão comigo, tentarão me compreender, e mesmo que eu erre com eles, irão chorar, mas depois sorrir, pois sabem que o amor existe conosco, entre vós e para sempre, e é isso, por isso, e com isso que as amizades são, serão, sempre uma forma de amar.