Quem lê, viaja

Zucleida acordou sem muito sacrifício nesta manhã. O som do alarme logo ativou na sua memória o compromisso do dia e aquilo lhe deu energia para levantar rápido da cama. Já havia uma semana que ela estava nesse estado de ansiedade e empolgação, contando cada segundo até chegar a hora de ela se encontrar com Ramsés e saber mais sobre a vida dele, suas aventuras. Essa virou sua nova rotina antes de sair para o trabalho. Vestir uma roupa rápido, tomar café e sentar no sofá por uma hora para descobrir mais histórias sobre esse homem incrível, o antigo Faraó do Egito.

Ela abre o livro e viaja imediatamente para a terra das pirâmides, entretida pelas guerras, os complôs, os romances, o cotidiano complicado da realeza. Página por página, ela tem a sensação de estar lá, ao lado de Ramsés, solidária ao que ele sente. Na sua imaginação, o Faraó já tem voz, trejeitos, expressões de raiva, alegria e tristeza, qualidades e fraquezas, tudo tão nítido quanto Zucleida consegue visualizar o Egito e suas exuberâncias, familiarizada com a cor da terra, o calor do deserto, a beleza do Nilo.

Zucleida está apegada a Ramsés e seus aliados. Tem raiva dos inimigos. Ainda que, logicamente, ela saiba que tudo o que está escrito naquelas páginas não pode ser alterado, ela não consegue conter a esperança de que o enredo mude, mude rápido, para que o Faraó se recupere logo do último ataque, que consiga conquistar sua amada e para que tudo corra bem com seus planos. Quando ela percebe que algo ruim está por vir, ela se controla para não pular os capítulos, fica tensa, chora e se afeta pelos problemas daqueles personagens como se eles fossem mais do que meras figuras descritas em folhas de papel.

No instante em que o livro acaba, não é apenas um ponto final. Zucleida fica quase que de luto, na mesma medida em que estaria inconformada em ter que se despedir de um amigo de infância. Um desânimo igual ao de ser forçada a terminar uma viagem inesquecível. Não mais Ramsés. Não mais Egito.

Ela sabe o que vai acontecer a seguir. Zucleida vai começar uma nova trajetória. Rejeitará alguns livros, claro, frustrada e com saudade das histórias anteriores, até encontrar personagens tão envolventes quanto os outros que ela amou no passado. “Há vida depois de Ramsés”, ela declara. Afinal, antes dele, Zucleida lembra que estava se aventurando com a narração de quatro amigas na Índia; com os mistérios de uma cidade perdida na Floresta Amazônica; com os relatos de um louco preso em um hospital psiquiátrico; com um estudante húngaro lutando pela sobrevivência durante o Holocausto. “Não há limites para o que vem depois”, ela se anima!

Seis horas da manhã. O alarme toca e Zucleida abre os olhos com pressa. Veste uma roupa rápido, toma café, senta no sofá e abre seu livro. Ela passa os próximos 60 minutos viajando pelos Sete Reinos, uma terra fictícia cheia de gente gananciosa para tomar o Trono de Ferro. E assim ela vai, torcendo por Ned Stark, apaixonada por Jon Snow, irritada com Sansa, odiando cada palavra que sai da boca da rainha Cersei, rindo com o cinismo de Little Finger. São tantas aventuras, personagens intensos, lugares incríveis. Só consegue aguentar quem sabe dar asas a imaginação.

Stéphanie Garcia Pires
Enviado por Stéphanie Garcia Pires em 16/07/2012
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