"TRABALHAR PARA POBRE, É PEDIR ESMOLA PRA DEUS"

“Trabalhar para pobre, é pedir esmola pra Deus”...

Foi com este provérbio, que minha empregada, a Jacinta, adentrou-se à minha casa, hoje, pela manhã. Estava irritada, como sempre , às segundas feiras...

- Que bicho te mordeu? Uma lacraia, um marimbondo?... Diz aí...

- Não, dona Thereza... Foi pior que isso...

- Diz logo, então... Posso te ajudar?...

- Não, obrigada!

- Está me deixando curiosa... Vamos lá, porque está tão irritada?...

- A senhora sabe que faço os meus extras, trabalhando sábados e domingos em festas, não sabe?

- Claro que sei, mas... Qual é o problema? Alguma briga, um quebra-quebra...

- Não, nada disso. A senhora me conhece e sabe que não gosto de gente enrolada e desonesta, não sabe?...

- Disso, não tenho dúvida... Então?...

- Aí, ontem, eu e o meu grupo fomos trabalhar numa festa julina, como barraqueiras, (turma que arruma e vende os produtos da barraca). Foi tratado, com a dona da festa que esta acabaria às cinco horas da tarde e que receberíamos pelo trabalho R$ 70,00 para cada um. Muito bem, quando terminou a festa, já estávamos cansados e doidos para irmos pra casa, descansar... Foi quando, ela teve que prestar contas aos fornecedores dos salgados, doces e etc...

- Nossa!!! Mas é isso tudo? Não pensei que fosse tanto...

- A senhora não perguntou, achamos que teria uma estimativa... Não pode comparar com a do ano passado, a inflação subiu, fora a mão de obra...

- Por favor, façam-me um desconto! Como vou pagar aos meus contratados?

- Ah, vai sobrar pra nós, eu sabia, essa mulher é muito enrolada... Por que não perguntou, antes, o preço? _ disse a chefe do nosso grupo_ não vamos permitir isso...

Enquanto a dona da festa e os fornecedores discutiam se tinha desconto ou não, Jacinta, que é uma líder autêntica, vociferou:

- Pessoal! Não saímos daqui, enquanto não recebermos o nosso dinheiro!

- Muito bem, Jacinta, tu tá certa. Tô contigo_ disse a Luiza, outra barraqueira...

Já passavam das sete horas, quando a dona da festa, veio pagar-lhes:

- Meus anjinhos, infelizmente não poderei pagar os R$ 70,00 que prometi... Me desculpem, mas tive um grande prejuízo...Essa festa ficou-me cara demais. Só posso pagar R$ 50,00...

- Isso não é direito, nós não temos que pagar pela sua incompetência e desorganização! Já que também fomos prejudicados, sugiro aos meus colegas que deixemos a limpeza pra senhora. Vou embora e quem quiser que fique! Boa noite!

E assim, Jacinta saiu e, como mora longe, chegou à casa depois da meia- noite...

Jacinta trabalha pra mim há dezoito anos. É paraibana porreta, de bom coração mas... não leva desaforo pra casa. Costumo dizer que Ela é o meu braço direito e o esquerdo, também. É trabalhadeira e muito ligeira. O que mais admiro nela é a honestidade...

Tete Brito
Enviado por Tete Brito em 16/07/2012
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