Escritas da Finitude...

Altair Martins, André de Leones e Carlos de Brito e Mello foram os jovens autores brasileiros convidados para a primeira mesa da Flip em 2012. De algumas das minhas anotações surgiu este pequeno texto.

André de Leones, nasceu na cidade de Silvania, no interior de Goiás. Ele conta que a sua cidade tem a estranha sorte de apresentar estatísticas assustadoras de suicídio, e talvez seja pelo fato da rígida educação religiosa, e das estruturas autoritárias, famílias conservadoras geram a auto-anulação do indivíduo que se mata.

Ao ser interpelado pelo mediador João Cezar de Castro Rocha, sobre o motivo de gostarmos de ler ficção, relacionada à morte os escritores falaram sobre as suas escritas:

”Gosto de pensar que “Dentes negros” é um livro impulsionado para o fim, talvez até por isso seja uma narrativa breve. Não há como tergiversar muito à frente de um abismo.

Na cidade do interior em que nasci, há um grande número de suicídios, o que me levou a muitos questionamentos na vida. Eu, ao invés de me matar, resolvi escrever sobre a morte dos outros. A literatura não salva, mas adia a morte inevitável.

Mas, mesmo sendo um romance apocalíptico, o final é feliz: tendo contemplado o abismo, olham para cima e conseguem enxergar um ao outro. A consciência da finitude é importante.

Já, o jovem escritor Altair Martins conta uma ficção a partir da biografia da morte do seu pai; um jockey. Ele saiu um dia para uma carreira e morreu andando de moto pela estrada. Na literatura temos duas mortes evidentes, a física e a morte anímica. A vida é a arte de esquecer, não de lembrar. É uma arte de morrer constantemente... “A maioria dos livros fala sobre o que ocorre ao redor da morte, não a morte em si. Meu livro “Parede no escuro” mostra um atropelamento e as várias mortes anímicas que ocorrem a partir disso.

Altair fala achar curioso o fato de Ricardo Reis não ter morrido, ele é eterno. Ricardo Reis tinha uma dúvida: sou ou não sou um deus? Sou imortal? Bem, interessante citar que: Fernando Pessoa morreu antes dele.

Comenta que a intenção do escritor é a de escrever um romance para ver onde ele pode chegar, para experimentar a finitude e não necessariamente para metaforizar determinados temas.

Carlos de Brito e Mello faz alusão de que a morte encerra mas também inaugura algumas possibilidades. Em “A passagem tensa dos corpos”, seu mais recente romance ele conta: É a morte quem opera a narrativa. Como num jogo de tabuleiro: Resta Um funciona pela morte. Sem a perda da peça o jogo não continua, mas percebe-se a importância do tabuleiro.

Na minha cidade (Visconde do Rio Branco (MG)) as mortes eram anunciadas por um carro de som. E ao ouvir isso, na casa da minha avó, começava uma conversa sobre quem era aquela pessoa, o que ela havia feito as outras pessoas da cidade que já haviam morrido ou não.

O momento da descoberta de uma morte desafia a linguagem, há gaguejos, surpresa, choros. Mas ao mesmo tempo nós só experimentamos a morte por causa da linguagem.

Nisso uma pessoa da platéia conta para Carlos de Brito que o carro de som está proibido de circular pela cidade anunciando as mortes... veio a lei do silêncio!