MEU ARCO-ÍRIS E A MAIOR DECEPÇÃO DE MINHA VIDA

MEU ARCO-ÍRIS E A MAIOR DECEPÇÃO DE MINHA VIDA

Desde a mais tenra idade, encantava-me com o arco-íris. Não entendia por que ele só aparecia em dias de chuva. Mas, logo notei: Só quando as nuvens eram boazinhas, não escondendo totalmente o sol, aquele arco do tamanho do céu vinha enfeitar o espaço.

Outra coisa que não compreendia: Em frente da minha casa, ele só aparecia à tarde. Atrás dela, o show de cores só era visto pela manhã.

Lembrava que as pessoas importantes tinham sempre uma cor preferida. Isso eu via nas entrevistas da TV. Como eu não sabia escolher uma cor do arco-íris, raciocinava: “É porque não sou importante! Tem nada não. Fico com o arco-íris completo. Só para mim!”

Aprendi a gostar de noticiosos por causa do arco-íris. Ficava muito contente quando o meteorologista dizia: “Amanhã vai ser parcialmente nublado, com chuvas escassas”...

Quando o tempo ficava assim, as chances de ver as “minhas cores preferidas” aumentavam... Vibrava e torcia para que a noite se passasse rápido. Nesses dias, frequentemente, eu as via duas vezes: Uma, dormindo, à noite; e a outra, acordado, durante o dia. Ficava decepcionado quando só via “meu arco” nos sonhos...

Achava interessante quando minha mãe explicava: “Meu filho, isso é o ‘arco-da-aliança’, um sinal da promessa de Deus aos seres vivos da Terra, de que jamais faria outro Dilúvio”. Eu ficava aliviado e contente, por causa da promessa e por causa do sinal dela. E foi esse o motivo que me levou a ler a Bíblia. Lógico, começando pela história da inundação gigante. Aprendi tudo sobre Noé e sua Arca. A partir de então, passei a chamar o local alto onde ficava a casa de meu cachorro de “Monte Ararat”.

Mas ficava decepcionado quando meu pai dizia: “Arco-íris é uma ilusão de ótica, Lucas. Isso ocorre quando os raios do sol, que são brancos, incidem sobre gotículas de água e...”. Nem queria saber do resto da conversa. Eu achava muito mais bonita a história que mamãe contava.

Eu acho até que era por causa de meu pai que eu tirava tantas notas baixas nas provas de Ciências...

Um dia eu ouvi falar que na Grécia Antiga havia uma lenda de uma deusa chamada Íris, uma mensageira de outros deuses, que, ao executar seu trabalho, deixava seu rastro colorido no céu. Me disseram que lenda era uma história inventada. Então me interessei pela história grega somente porque eles gostavam também de arco-íris.

Eu só não entendia uma coisa: O porquê do “meu arco-íris” nunca ficar em cima de minha casa. Logo eu, que gostava tanto dele, nunca o via perto de mim!

Ocorre que uma vez saímos toda a família para uma viagem. Lembro que fui sentado sozinho no banco de trás. Chovia um pouco, mas o sol incomodava meus pais, que ficavam fechando os olhos e franzindo a testa. Eram nove horas da manhã. Eu sabia que era em dias assim que o “meu arco-íris” aparecia. Fiquei inquieto, procurando-o. Ao olhar para trás, estava o arco-íris por cima de minha casa! De tanto insistir, meu pai deu a volta no carro para que eu visse “meu arco” de perto, na minha casa!

Quando chegamos, ele já não estava lá. Me indignei. O insultei, pois ele se encontrava bem atrás da casa. Que decepção! A maior de minha vida.... Uma grande amizade não correspondida! Foi então que dei ouvido às explicações de meu pai. Hoje sou fã de Ciêcias e sei que o arco-íris não é só meu!

Pedro Cordeiro
Enviado por Pedro Cordeiro em 19/07/2012
Reeditado em 07/06/2014
Código do texto: T3787122
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