Não menos que uma flor morta, não mais que um seixo esquecido...

Existem dias em que os barulhos parecem atravessar sua mentes e desenhar diagramas nos quais não se pode ver outros desenhos se não riscos incompreencíveis de uma mente brilhante.

Hoje chove... eu tento, mas não posso...

desejo tanto, mas nada parece satisfazer meu ideal.

Basta apenas uma gota d'agua, todo make-up de uma vida se foi. nada menos que a borboleta livre, de cores estranhas, mas que sobrevive.

O que eu sinto parece ser tão meu, que não é a solidão vazia de um clichê cinemátografico. Eu penso nas ruas desertas, no silêncio inalcansavel...

penso na força,talvez expressa em um poema em outra lingua cuja imagens serei incapaz de compreender...

Jogo a moeda para o alto... sinto o alento de uma alma que grita, que se rasga em bilhetes de mau fado, as estrelas são más e os deuses, ah os deuses, não existem.

Hesito entre se devo falar, mas sempre paro a frase no meio. Aí penso, aí minhas palpebras doem, os olhos se ofuscam... o lago do cisne morto, uma cor nova a ser descoberta: a cor-conceito-de-uma-vida-esquecida...

Sinto a morte perto, seu hálito toca minha nuca e arrepia os pelos do meu braço... a hora do Angelus.... badaladas mortais do violoncelo...

Eu vejo olhos, eu vejo vultos, vejo borrões.... eu vejo livros que prendem personagens incriveis que Shakespeare poderia ter desenhado.

Por favor, ajuste a câmera, a Academia jamais verá outro beijo igual a esse, não haverá outra mulher mais bela, outra lágrima primeva com com cheiro de primavera...

Olhe as unhas... há sangue oculto nelas...

O que fiz? O que fez? Partícipio futuro, eis o que quero. Uma ação. Um pensamento.

Escrevo para morrer... e morro escrevendo e num ultimo suspiro, surpreendo-me com vida, mas sem esperança.

Ouço a música que me arrasta para frente, enquanto eu queria ser uma mancha em uma tela apenas, um reflexo no espelho que não pensa. Queria ser....se pudesse...

Espalho então pelas cadeiras junto com a roupa e o perfume os sentimentos que elas guardam, o luto, os sapatos, os óculos sobre a mesa... o medalhão perdido em alto-mar.

Mas a noite não vem, e quando vem já não é mais a mesma.

Eu preciso respirar...

Afogo-me entre conceitos que não entendo e modas que sou obrigado a conhecer... sinto o peso de séculos.

Réplica, pedestal, arte... pó... ossos....uma veia aberta para o nada, para o silêncio das coisas não lidas...

O que sinto hoje, talvez o sinta amanha, talvez o escreva novamente, mas eu simplesmente queria saber o porque?

Há muita coragem em morrer com um sorriso nos lábios, do que num adeus de olhar cabisbaixo...

Um velho dragão devora os sonhos, as rosas perdem suas petalas, nunca gostei de rosas, prefiro flores azuis...

mas há apenas a lápide, os ciprestes... e um epitáfio que é só silêncio...

R sobre o túmulo, um livro aberto... uma biografia talvez de Stendhal, talvez escrito por um Flaubert... C'est moi!...

Mas tudo é vulto, não menos que uma flor morta e não mais que um seixo esquecido, que a lagrima que secou e o medo vencido.

Sempre no final só existe o silêncio de um adeus!

Ev
Enviado por Ev em 12/02/2007
Código do texto: T378718