A verdadeira amizade




 
                        Foi um gesto meu de brincadeira, nem foi tão a sério assim. Mas esse gesto marcou uma amizade profunda com meu amigo Luiz Affonso. Estava eu no terceiro ano do Curso Clássico (correspondia ao curso científico).  De surpresa, o professor de uma determinada matéria nos deu uma prova. Por sorte,  tinha estudado o que foi perguntado e rapidamente acabei minha prova.  Ao olhar para o meu lado, vejo o Luiz Affonso, apreensivo,  ele que  tinha chegado recentemente de  São Paulo e ainda estava se adaptando ao nosso colégio do Rio. Ele não sabia nada da prova e me pediu “cola”. Eu, simplesmente, sem pensar, coloquei a minha prova na mesa dele para que ele copiasse tudo. E foi o que ele fez, tremendo de medo do professor perceber que na minha mesa não estava a minha prova. Me diverti com esse meu gesto e, afinal, deu tudo certo e o nosso professor nada percebeu.
                        Daquele dia em diante, nossa amizade começou e foi se aprofundando tanto,  que viramos confidentes um  do outro e gostávamos de nos encontrar, sempre com muita alegria. Recordo-me que uns cinco anos depois, já esquecido daquela prova do colégio, perguntei ao Luiz Affonso porque ele havia ficando tão meu amigo. A resposta veio na hora. A amizade dele tinha brotado naquele instante em que me arrisquei e coloquei minha prova na carteira dele. Para ele, eu tinha dado uma prova de grande amizade e mal o conhecia, apesar, claro, de nós dois termos infringido as regras normais do Colégio.
            Hoje, eu tenho o prazer  de dizer o que é uma verdadeira amizade. O principal sinal é que somos tomados de uma alegria imensa sempre que encontramos o amigo,  e a presença dele nunca nos cansa. E o lado da confidência é outro grande sinal, porque só confessamos nossos erros para quem sentimos total confiança, sabendo que esse amigo jamais nos rejeitaria, por pior que fossem nossas faltas.
                        E foi com ele que confessei meus piores temores e mal feitos da adolescência. Ele foi meu melhor terapeuta, insuperável mesmo. Pena que ele não saiba disso e a vida, depois de uns 10 anos de convivência acabou por nos separar.
                        Tenho certeza do que seja uma verdadeira amizade, pelos sinais que acabei de mencionar:  a alegria permanente quando estamos com o amigo e o fato de nos sentirmos livres e tranquilos para confessar qualquer coisa para este amigo verdadeiro.
                        Estou relatando este fato por um grande motivo. É que venho notando a inconsistência do ser humano em seus relacionamentos e parece que nossa personalidade para sentir firmeza e desabrochar necessita de uma amizade realmente sincera. E é por isso que intuitivamente clamamos tanto por uma boa amizade.  E só num clima de autenticidade e sinceridade nossa vida ganha um grande sentido.  Fora disso, o que vemos são relacionamentos frouxos, inconsistentes, cheios de dúvidas e medos.  Talvez esteja aí, nessa falta de amizade, o fracasso do ser humano nos seus relacionamentos.