UM VOO NO ESCURO

Os Alcoólicos Anônimos são uma comunidade, com caráter voluntário, de homens e mulheres que se reúnem para alcançar e manter a sobriedade através da abstinência total de ingestão de bebidas alcoólicas. Surgido nos Estados Unidos da América em 1935, por iniciativa de um cirurgião e um corretor, ambos com problemas de alcoolismo, pensaram que o apoio mútuo podia livrá-los do perverso vício.

O AA foi difundido em todo o planeta e não possui caráter religioso, embora incorpore muitos princípios de diversas religiões e receba pessoas de todas as doutrinas. O anonimato é garantido aos freqüentadores e, assim, a irmandade não tem registro ou banco de dados que possa estimar quantas pessoas já foram recebidas.

O uso de substancias que modificam o estado psicológico é antigo e ocorre em todas as culturas, desde a mais remota. Tradicionalmente o uso de substancias alucinógenas está associado a rituais religiosos, até a igreja católica utiliza o vinho durante alguns rituais de celebração. O alcoolismo no Brasil atinge 20% da população.

Quando adolescente, tive uma experiência significativa ao acompanhar três pessoas, moradores da rua em que eu residia, uma delas era pai de dois amigos meus, em sessões dos alcoólicos anônimos. Elas eram dependentes de álcool e a família sofria muito pelo mal que isso lhes causava. Fui ao AA a convite dos meus dois amigos, a presença da família, principalmente, é vital para o sucesso do tratamento.

Os encontros servem para que os membros compartilhem entre si as experiências e sofrimento semelhantes. O método é simplesmente o reconhecimento de que alcoolismo é doença e que é preciso evitar o primeiro gole.

Nos primeiros encontros a pessoa fica muito constrangida pelo fato de estar ali, por ter de reconhecer sua fraqueza, mas com os sucessivos encontros acabam por reconhecer no outro membro um irmão capaz de sustentar a sua decisão de reverter hábitos e costumes. Lembro que um dos meus amigos pediu a palavra para falar de seu pai, de quanto a família o amava e de como era triste vê-lo constantemente declinando, perdendo parte de sua vida. Era comovente o relato dos familiares. Ao fim de cada sessão era servido um bolo acompanhado de refrigerante. A gente saía de lá brincando com eles: tomou refrigerante hein!!!

Todos os personagens ficaram livres do alcoolismo e suas famílias, ainda tenho contato, puderam experimentar o retorno de alguém tão necessário e amado por eles.

Há quem diga: é melhor ser um bêbado conhecido do que um alcoólico anônimo. Você não tem noção da bobagem que está dizendo.

Ricardo Mezavila
Enviado por Ricardo Mezavila em 10/08/2012
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