Da janela do escritório

Hoje, está sendo um dia estressante. Perdi a conta das fechadas que levei nesse trânsito cheio de malucos. O telefone me gritou sem parar."Preciso de um pouco de ar puro"! Vou até a janela e descubro que a mesma está trancada. Lá do fundo da sala alguém me avisa que o ar-condicionado está ligado. Ou seja, adeus ao meu ar puro. Volto para meus afazeres burocráticos e chatos: assino papéis, ligo para alguns clientes, recebo ligações de fornecedores, preparo materiais para serem enviados para a empresa matriz.

A minha rotina parecia inabalável até que, através do reflexo da minha porta, vejo minha vida inteira. Escutando The Doors, fixo o meu olhar no reflexo, que salta da minha janela de encontro com o vidro da porta, de um paciente deitado em um leito de hospital. Este, imóvel como o móvel que sustenta seu corpo enfermo e inerte, me faz pensar no meu automatismo diário. Como estou vivendo feito um zumbi, escravo de uma rotina maçante."Preciso de ar puro".

Vou até a cozinha, com a desculpa de buscar água, e abro a janela. Encho meus pulmões de ar dezenas de vezes. Encho mais uma vez e, prendo a respiração. Expiro apenas quando me sento de frente para o computador. Bem lentamente. Por um breve instante, senti que desliguei a tomada do automático e me senti mais vivo do que nunca. Antes de me transformar em zumbi novamente, olhei para o reflexo no vidro da minha porta e me entristeci. Ao som de The End, retornei a hipnótica vida normal.

Andref
Enviado por Andref em 15/02/2007
Reeditado em 06/03/2007
Código do texto: T382482