APOCALIPSE PLEASE

Estava em casa, pronto para sair, quando me lembrei de que eu tinha a discografia da banda Muse em algum CD, formato mp3, é claro. Atrasado. 07:30 era o máximo para sair de casa. Mas de alguma forma eu precisava encontra-lo. Algumas ações não existem motivos aparentes, são apenas executadas como instinto primitivo. Veja o amor, quer algo mais primitivo e pouco evoluído do que amar? Quanto tempo leva-se para entender que o amor somente conduz a dor suprema. Não é bom que o homem fique só? Li isso em algum livro velho e empoeirado de alguma estante jaz abandonada em algum lugar. Perdoem-me os hipócritas e politicamente corretos, todos os que nos perguntam se estamos bem, mas na certa, não esperam a resposta, se não viram as costas, iniciam uma nova conversa.

Entre milhares de compilações achei o meu cd do Muse. Ah, afinal, posso sair, ir trabalhar, rotina fugaz e necessária. Ligo o carro. O som. Injeto o cd. Um piano forte anuncia “ Declare isso uma emergência”. Opa. O quê? E prossegue, “Venha e espalhe o senso de urgência”. Entendi porque a banda, velha conhecida minha, esquecida entre tantos cds empilhados. A estrofe finaliza “And pull us through...”.

Talvez por isso seja clamado um apocalipse urgente em tom dramático, de dor, de pânico e ao mesmo tempo severamente gentil, “please, pull us through”. Aos poucos percebi, eu queria ouvir essa música. Não é falta de originalidade, afinal, quando lançaram o cd “Absolution” eu tinha quase sua idade hoje. Não faz diferença. A música é atemporal, sentimento primitivo o mesmo instinto tal qual o amor. Não sabemos o motivo de dançarmos, cantarmos, tocarmos um instrumento e amar...

“E havendo aberto o sétimo selo fez silêncio no céu por quase meia hora” e vi a breve silhueta anunciando o fim... “Não se afobe, não, que nada é pra já, o amor não tem pressa, ele pode esperar em silêncio”.

“I think I'm drowning” nesse silêncio que se tornou hostil ao ser educado e quase honesto. Como não se contradizer o corpo? Como as palavras são vãs a ponto de ridicularmente serem os acusadores, os inquisidores do próprio corpo? “I wanna break this spell, that you've created You're something beautiful, a contradiction, I wanna play the game, I want the friction, You will be the death of me, Yeah, You will be”, pois “I only dream of you” and “Sing for absolution” porque o tempo não chegará para nós a não ser que ele seja construido por um de nós ou mesmo, por nós, literalmente.

A Síndrome de Stockholm passou? “I won't stand in your way”…

O carro finalmente sai da garagem. O som, quando juntos enumerado em 4 ou até mesmo 2, saiu desta vez em 40, apocalipse please, uma leve garoa, não suficiente para molhar o asfalto, ainda seco e solitário. E depois de observar se algum instantâneo poderia aparecer para representar o momento, percebi uma multidão incontável trajando vestidos brancos e ovacionando o Tempo Rei. O sinal (semáforo) abriu e sete trombetas tocaram atrás de mim. Ainda coloquei para repetir a música e arranquei o carro calmamente.

Sinto tanta falta, o silêncio me corrói por dentro, como maresia sobre o ferro a deformá-lo, a dividi-lo a modifica-lo e do mesmo silêncio vou sendo transformado, sem entender o motivo de não podermos navegar sobre os mares antes que a ferrugem afunde nossos barcos. O silêncio não permite que eu diga o quanto quero estar por perto.

“Look to the stars, let hope burn in your eyes, and we'll love and we'll hope”… we’ll hope… I'll wait for you, I promise! But my words are no longer being heard and I will have no more chance to change their unilateral decision, and I'm to old to dream…

Endlessly

There's a part in me you'll never know

The only thing I'll never show